domingo, 3 de agosto de 2008

FRÁVIOOOOOOOOOO!!!

FRÁVIOOOOOOOOOO!!! Vinha o grito lá do quintal. Sábado, 12:00, talvez mais cedo, eu levantava ainda zonzo de sono e corria escada abaixo em direção ao chamado. Ao chegar no quintal encontrava meu pai de bermuda, sem camisa, esfregando o chão com uma vassoura e uma caixa de sabão em pó, e xingando a Dolly, nossa cadelinha Cocker Spaniel que insistia a correr atrás da água que era atirada para limpar o piso de ardósia. "Cadela do inferno, pensa que é um pato", dizia ele. Realmente era a única dos 5 cachorros que nutria essa paixão pela água, os outros dois ficavam sempre o mais longe possível da mangueira. Quando eu chegava ao encontro dessa cena, já sabia que tudo que eu havia planejado para o dia - jogar videogame e assistir TV - iria ter que ficar para depois, a menos que eu conseguisse escapar. Quando me via, o velho falava " Vai, troca a água dos cachorros, põe comida para os papagaios e vêm jogando água enquanto eu esfrego!". Emburrado eu o seguia, tirando com a água o sabão do quintal. De vez em quando a água da mangueira respingava e eu ouvia " Fidum´aputa!!!!", mas não podia rir, senão azedava de vez. Durante todo o trajeto do quintal eu ouvia reclamações e xingamentos, vezes por não tirar o sabão direito, vezes pelo mal humor característico do meu pai. Chegado o fim do quintal, era a vez dos cachorros tomarem banho, e sobrava pra mim a tarefa de segurá-los enquanto ele pegava o sabão de côco para ensaboá-los. Se eles se mexessem demais ou respingasse muita água, eu era xingado, "SEGURA ELE DIREITO CARAIO". Depois de todos os animais de banho tomado, o quê algumas vezes também incluia o "mequetrefe" (nosso gato vira-lata que tomava banho a força no tanque, gritando e arranhando meu pai, que amaldiçoava até a quinta geração da familia do coitado do bichano), era hora do veio começar a lavar o carro. Minha função nesse momento era somente abrir e fechar a mangueira quando ele mandasse, com a rapidez que ele exigia. Sentado na escada, quando eu via que ele ia demorar até pedir minha ajuda novamente, pois o carro era grande e ele ensaboava com calma e cuidado, eu sorrateiramente subia ao meu quarto e começava uma partida, até que, cinco minutos depois o quarteirão inteiro ouvisse " FRÁVIOOOOOOOOOO MOLEQUE FIDUM´APUTAAAAA, JÁ SUBIU É?" Quando ouvia essa frase eu corria novamente, passava voando pela cozinha, onde minha mãe preparava o almoço e ria, se divertindo com a cena. Quando chegava no carro ele já estava azedo e reclamando sozinho " VOCÊ E SUA IRMÃ, VOU TE CONTAR. PARECE AQUELE DINOSSAURO REX, TUDO BRACINHO CURTO, NÃO TEM CORAGEM DE TIRAR A BUNDA DO SOFÁ.... AS CRIAÇÕES TODAS PATINANDO NA MERDA E VOCÊS LÁ, DE CUZÃO PRA CIMA. VAI, VAI LIMPANDO AS RODAS DO CARRO." e lá ia eu, lavar roda por roda, e bem limpas, para não ouvir ainda mais. Depois do carro devidamente lavado, era minha obrigação pegar todos os produtos utilizados no serviço, passar uma água e guardar, coisa que eu fazia tudo de qualquer jeito, afinal, minha mãe com certeza iria arrumar tudo depois, e me mandava para o meu quarto. Nem meia hora depois "FRÁVIOOOOOOOOOO", eu corria de novo e ele estava arrumando a tomada da cozinha, com a caixa de ferramentas do lado, virava e me falava "pega aí uma chave de fenda pro pai". Me perguntando porquê ele mesmo não tinha pegado, já que estava com a caixa de ferramentas do lado dele, eu procurava, entregava e me virava para voltar ao quarto quando ouvia "owww, onde você vai? vem dar uma mão pro pai" e me pedia outra ferramenta. Caso essa ferramenta não estivesse na caixa, ele me falava onde ela estaria e caso eu não achasse, ouvia outra frase clássica "Se eu achar posso bater com ela na sua cabeça?". Ele achava, mas não batia! Contrariado eu ficava olhando ele trocar os "espelhinhos" dos interruptores, até que chegasse um que faltasse um parafuso e eu ouvisse a temida frase "Pega aquela lata de parafuso pro pai?". a Lata de parafusos era uma antiga lata de tinta de mais ou menos 30cm de altura e 15cm de largura onde eram guardados centenas de parafusos e porcas e de todos os tamanhos possíveis. O motivo para eu temer a lata era simples: assim que a entregava, todo o conteúdo era espalhado no chão por ele, que escolhia uma das peças e me falava "Agora junta aí pro pai". Cada vez que ele espalhava aqueles parafusos, eu passava pelo menos 15 minutos para recolher tudo e guardar de volta na lata, tempo mais do que suficiente para ele achar outro "espelhinho" faltando um parafuso e esparramar a lata inteira no chão novamente. Essa sequência se repetia às vezes 3, 4 vezes por sessão, me deixando à beira da exaustão mental, até ser salvo pela minha mãe, anunciando a hora do almoço. Depois de comer eu finalmente conseguia correr para o quarto para ter momentos de paz para jogar videogame, até ouvir...

"FRÁVIOOOOOOOO". Faltava trocar os espelhinhos dos interruptores dos quartos, e um deles faltava um parafuso...

5 comentários:

Anônimo disse...

Estou simplesmente cor dor de barriga de tanto que estou rindo da sua rotina dominical com seu "amável" papi...

"...acha que é um pato..."

E os xingamentos do carro... uhauahuahuahuahauhahauhauhauauahauhauahuah

Teu pai é uma figura!


bju

Anônimo disse...

Não consigo nem descrever!!!

Muito bom!!!

~e vê se atualiza mais!!!

amo ler isso aki!!!

bjus Mah

Lully disse...

KKKKKKK!!!!!

Pior que era, exatamente assim!!!!

"...Sai daqui Dolly, cadela fiadumaputa, nao pode vê agua essa lazarenta..."

Parece q to vendo .....
rsrsrsrsrs

Anônimo disse...

Nossa, reviver a vidas dos outros parece mais fácil com as tuas palavras!
Te acho fodastico Flavinho, fodastico!

Anônimo disse...

Nossa, eu adorei! Dei muitas risadas... Seu pai parece com o meu. Ele vivia gritando com meus irmãos para pegar as coisas para ele. É muito bom voltar ao passado, principalmente qd ele é feito de lembranças boas.

Beijos!