domingo, 30 de novembro de 2008

Dois registros

Mais uma vez você está naquela situação: No banheiro, pelado dentro do box, encarando um par de registros que brotam da parede e pensa “de novo...”. Hoje em dia até para tomar banho existe técnica. Como se não bastasse a dificuldade que você já passa no dia-a-dia para gravar nomes no celular, programar o rádio-relógio e ajustar a hora no microondas, a modernidade faz questão de te trazer chuveiros com dois registros, ou “ducha”, na linguagem dos mais frescos.
Agora elas estão em todo lugar, desde motéis vagabundos de beira de estrada, até casas de milhões de reais em Alphaville, menos, é claro, na sua casa. No banheiro do seu apartamento de 70m² localizado na Zona Leste de São Paulo, o chuveiro tem apenas um registro e é dificílimo acertar o ponto ideal de abertura para um banho agradável. Se abrir meia volta do registro, a água já estará gelada; tem que abrir só um “cabelo”, a água vai ficar “pelando”. Para se tomar banho em um chuveiro assim, é necessário habilidade, uma vez que acertado o ponto ideal de temperatura, ele o mantém apenas por alguns minutos, para logo em seguida desligar e gelar de uma hora para a outra a água que cai nas suas costas. Para não dizer que não rola um aviso, ele deixa de fazer barulho, e esse é o momento em que você tem que saltar pra frente para sair do caminho da água, tentando não desequilibrar no chão molhado e se esborrachar. Porém, depois de anos de treino, os três ou quatro “saltos de desvio” por banho se tornam automáticos e você já nem se preocupa com esse detalhe. A ducha, porém, é um sistema diferente, e nem sempre padrão no que diz respeito ao acionamento. Na teoria, é sabido que uma das torneiras liberará a água quente e a outra a água fria e que a somatória das duas tornará o seu banho morno e agradável, mas ali na hora, qual escolher? Não adianta invocar qualquer conhecimento prévio em outras duchas, pois se na casa da sua avó a da esquerda é a quente, no motel da esquina pode ser a da direita. Tal qual uma “Porta da esperança” dos infernos, qualquer uma das opções irá te foder, e não adianta querer abrir as duas ao mesmo tempo, será impossível, pois você nasceu destro e não tem a mesma habilidade motora com a mão esquerda, que tem com a direita, além da óbvia posição que você ficaria ao tentar abrir os dois registros de uma só vez: Com as costas exatamente na direção da água, à mercê de qualquer falha técnica do sistema. Assim sendo, só lhe resta duas opções: Escolher um dos dois registros ou ir fedendo ao trabalho. Como a segunda opção é inviável, só lhe resta confiar nos seus instintos e esperar pelo melhor.

Com isso em mente, você escolhe abrir a fria primeiro, melhor aguentar alguns segundos de água gelada do que ver o couro das costas descer pelo ralo com a água fervente. O próximo passo é descobrir qual das duas é a torneira fria. Você olha fixamente para as duas, tentando achar algum sinal que denuncie qual é qual. Sinais “F” e “Q”, pontinhos azuis ou vermelhos no centro, enfim, qualquer coisa que lhe avise qual torneira é a que você quer abrir. Não há nada. Você então segura cada um dos registros em uma das mãos e tenta sentir a temperatura, imaginando que o registro da água quente estará (claro) mais quente. Nada!

Já atrasado para o trabalho você decide arriscar, fica o mais longe possível da direção da água, estica o braço em direção ao registro da direita e vira de uma vez e...

Nada acontece, tinham tirado a ducha, instalado um chuveiro e o outro registro que era o certo...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Inversão de Valores

20 – 10
10 – 20

Isso é que é uma completa inversão de valores, o resto a gente atura….

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Não serve pra nada!

Todo dia ele passava por aquela lavanderia de roupas à seco. Sempre achou que aquilo não servia para nada, tanto que dizia para si mesmo e para os outros: “Isso não serve para nada”. Dentro de um supermercado, que raios faria uma lavanderia? Ele mesmo, nem ninguém que ele jamais conhecera, nunca levou cuecas sujas para dentro de um supermercado. Na sua concepção, mercados eram feitos para se adquirir coisas, não lavar as que estavam sujas. Roupa suja se lava em casa, isso era no que acreditava!
Porém, só o fato de aquele estabelecimento existir já era um incômodo. Como se não bastasse não servir para nada, ainda era mal localizado, pior até do que a revistaria de nome “News” (outro estabelecimento incômodo, pelo nome). Ficava ao lado dos caixas eletrônicos, de frente para uma parede, que não era bem uma parede, era meio madeirite, saca?
Um dia, de long neck em punho ele procurava uma solução. Era cerveja argentina, sem tampa-rolha, daquelas que a gente gira e tira, e rasga a camiseta. Essa tinha que ser com abridor.
Decidido a resolver o problema com a cerveja e o dilema da utilidade da lavanderia, para lá se dirigiu. Entrou, deu boa tarde e perguntou à morena que o recebeu com um sorriso: “Tem abridor?”. Estática a moça tenta absorver a pergunta, mastiga, não engole e torna: “Abridor?”. “É”, responde ele e levanta a garrafa à altura dos olhos da atendente. Visivelmente travada ela responde com o melhor sorriso que consegue inventar para uma pergunta como aquela “Não, desculpe”. Indignado ele nem responde, se vira, sai pisando duro e repetindo:

Eu sabia!

sábado, 8 de novembro de 2008

Paranóia

O que fala de você para o companheiro, aquele homem sentado na calçada, sujo e com o rosto queimado de sol? Que teve mais sorte que ele na vida, que devia agradecer por onde dorme, pelo que come e pelo que veste? Ri da sua falta de liberdade? pelo seu trabalho em horário comercial e contas a pagar? O que fala de você aquele cara com quem você estudou na 3ª série, que cruza seu caminho? Que foi uma grande amizade, que vai marcar uma cervejada com a velha turma, ou que apenas viu um rosto familiar na rua?
E aquela menina que te paquerava no serviço, diria para a nova estagiária que você agora está mais bonito, que é alguém de sucesso, que ama o que faz? Talvez diga que deveria ter continuado na antiga faculdade, no antigo emprego, com as velhas amizades e velhos valores...
O que fala de você para o garçom, o dono do boteco que você freqüenta? Que é um amigo que passou por lá para tomar uma cerveja, papear e comentar os últimos lances do último clássico no Pacaembú? Que é um bom cliente, que não tinha 50 reais na carteira para honrar as doses de uísque que tomou e pendurou na caderneta para acertar amanhã?
Em uma balada na Vila Olímpia, o que dizem sobre você os amigos da sua menina, quando descobrem que você anda de ônibus, que usa tênis barato e que está com dinheiro contado para a noite? Que era um cara gente boa, engraçado e que esperam que apareça mais vezes, ou de que buraco uma menina tão bonita tirou um traste como este? E quanto àquela moça em roupas mínimas e maquiagem pesada, que circula por uma esquina do centro, contando os minutos para voltar para vida real? Diria para moça da outra esquina que você foi mais um cliente a se deitar na sua cama e se embebedar da sua luxúria ou que foi alguém especial, que ela quer conhecer melhor?
O que fala de você para as amigas, aquela menina que te sorri quando não precisa, que se fecha quando indagada e que te beija inesperadamente?
Provavelmente nada, você que anda paranóico...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O fim

Naquele momento, os dois sabiam que não teria outra vez, mas estavam tranqüilos. Ela deu aquele sorriso de meio-lábio, quase um pedido de desculpas, mas não chegou a dizer. Ele apenas devolveu o gesto, coçou a cabeça (como sempre faz quando está nervoso) e deu um gole no conhaque, que de algum modo descia mais fácil do que aquela situação.
Não importa quem fez o quê, quem deu o primeiro passo ou o último olhar. Depois daquela noite não haveria mais nada, não que antes houvesse, mas aqueles momentos eram decisivos. Dali para frente eles seriam outros, com muitos outros e outras, em outros tempos e locais, mas entre si, nunca mais.
Na hora da despedida, os dois se abraçaram e ele pensou em pedir um beijo, mas desistiu...
Às vezes é melhor deixar as coisas como estão.

domingo, 2 de novembro de 2008

copiado

Tenho dois blogs, como a maioria deve saber....

Esse trata de absolutamente nada e outro que trata da F1, minha grande paixão.

Dessa vez, fiquei em dúvida sobre onde postar esse comentário, pois era pessoal demais para ser colocado no F1-09, e segmentado demais para por aqui. Decidi postar nos dois.

Ainda estou triste pelo campeonato, e mais triste ainda de saber que só vou ter alguma emoção em Março do ano que vem....

Mas enfim, F1 é assim, e amor não se escolhe.

Emoção

Sempre estranhei quando meus amigos se emocionavam com futebol. Na verdade, nada nesse jogo nunca me pareceu muito correto. 20 caras correndo atrás de uma bola e mais dois tentando protegê-las para que não entrem em um espaço de poucos metros demarcado por tubos de metal sempre foi esquisito sob a minha ótica. Quando o Corinthians caiu para a Série B, um dos meus amigos passou mal fisicamente e tempos depois eu chamei aquilo de viadagem.

Todo mundo que me conhece pelo menos um pouco, sabe que eu sou apaixonado por F1. Durante treinos classificatórios e corridas eu sempre grito e xingo conforme a situação se desenrola, mas todas as emoções nunca passaram do momento do lance.

Talvez para mostrar que não estou livre desse tipo de sofrimento, Deus fez com que Felipe Massa, piloto da Ferrari, chegasse à ultima corrida do campeonato com 7 pontos a menos do que Lewis Hamilton, da Mclaren, na disputa pelo campeonato mundial. Para ser campeão, Massa precisava terminar em primeiro e Hamilton em sexto, qualquer posição acima para o piloto da Mclaren, daria o título...

Nos treinos classificatórios. Massa fez a pole position, iria fazer o papel dele e largar na frente. Hamilton largaria em quarto, posição boa pra ele para conquistar o campeonato.

Minutos antes de começar, começa a chover em Interlagos e as equipes correm para trocar os pneus da galera.

Às 15:10 começa a corrida, com algumas trocas de posições e abandonos. Por alguns momentos, Massa é o campeão virtual do mundo (virtual porquê não tinha acabado ainda), Hamilton em sexto. Passo mal a primeira vez.

Hamilton consegue a quinta colocação, que lhe daria o título e a partir desse momento eu achei que estava tudo terminado.....Ficaria feliz com a vitória do Felipe em casa e já era....Mas tiveram as últimas voltas....


Voltou a chover, Massa estava em primeiro, com pneus intermediários, o que significa que somente um erro bobo ou falha de motor o tirariam da corrida. Faltando 3 voltas para o final, Sebastian Vettel começa a atacar Hamilton pela quinta posição. Desde que ele começou que eu vou com a cara desse alemão, e nunca torci tanto por uma ultrapassagem. Vettel passa Hamilton e só precisa ficar uma volta na frente para Massa ganhar o campeonato. Nesse ponto, minhas mãos tremiam e eu estava em pé, segurando na estante da TV, rezando para o Vettel não cagar.

Última volta, meus olhos já cheios de lágrimas vêem o Felipe ultrapassar a linha de chegada, com tema da vitória e tudo. A câmera corta para o Hamilton, que vai na fúria pra cima do Vettel, querendo o título. Grito para o alemão defender a posição e depois do misto do circuito realmente acredito que o título vai para Felipe.

Cerca de 30 segundos depois, a câmera mostra os boxes com a família do Felipe comemorando e eu gritando em frente à TV sem saber o que aconteceu....

Quando olho na classificação na tela, vejo que Hamilton conseguiu ultrapassar Timo Glock, da Toyota, chegando em quinto lugar e garantindo para si o título. Apesar de já saber que era uma coisa com mais de 90% de chances de acontecer, quando vi o Vettel passando, achei que viria um título inédito para o Brasil e que o Hamilton amargaria por mais um ano.... Quando cortou para a câmera no carro do Felipe, vi que ele chorava, e chorei junto....Minha irmã ligou em casa e ficou preocupada, pois eu falava com a voz embargada, simplesmente não acreditava em um final de campeonato como esse...

Claro, Hamilton mereceu e levou, mas como um brasileiro, eu esperava que desse zebra e Massa fosse campeão. O grande problema, foi que até 500m da linha de chegada, Massa era campeão, mas infelizmente os pneus de Glock não aguentavam segurar a posição....

São coisas do automobilismo, mas que é triste, é....