sábado, 29 de dezembro de 2007

Natal e Papai Noel

Sei que o natal já passou há alguns dias e que é meio tarde para relembrar de histórias como a que eu vou escrever, mas o fato é que meu relógio biológico geralmente trabalha meio atrasado e eu só paro para refletir sobre as coisas quando me dá na telha, quando reflito. Deixando de lado aspectos puramente técnicos como o calendário, me ponho a relatar:

Nunca parei pra pensar sobre o que achava do natal. Desde pequeno não passava de um dia em que a família se reunia, trocava presentes e esperava dar meia noite para comer peru. Mesmo a figura intrigante do Papai Noel não me levava a nenhuma indagação. Embora fosse obviamente estranho um velhinho vir uma vez por ano vestido em roupas de frio no meio do verão e me entregar presentes somente por eu ter mandado uma carta para o Pólo Norte, eu aceitava aquilo com muita naturalidade e até sentava no colo do individuo, com um sorriso que não caberiam na boca, se não fosse pela falta de dois dentes da frente que demoraram mais do que deveriam para crescer. Depois de crescido e descoberto que na verdade a figura mítica vestida de vermelho e com grossas barbas brancas que eu sentava no colo todo ano era um dos meus tios, que os presentes era meu pai que comprava e que na verdade o natal correspondia ao dia que Jesus nasceu em Belém, ao invés de me revoltar contra o sistema, chutar meus tios na canela e perguntado o que raios era o Papai Noel, eu simplesmente deixei de lado a questão e me foquei em coisas mais práticas, como abrir os presentes.

Como tudo na vida que não se encaixa, um dia as duvidas finalmente vêm à tona e durante um jantar com meu pai me lembro de ter perguntado o porquê do culto à figura do Papai Noel, o que ele me respondeu: “ Papai Noel não é uma pessoa; o velhinho de barba branca e roupa vermelha é só uma representação de uma idéia de fraternidade, solidariedade e amor.”. Confesso que na época, com cerca de 15 anos de idade e nenhum conhecimento de mundo, eu simplesmente engoli a explicação sem mastigar e pus uma pedra no assunto.

Novas reflexões sobre o natal só me vieram á cabeça anos mais tarde, após diversas transformações drásticas na minha vida e no modo como eu a via. Com cerca de 20 anos, após celebrar o natal com meus irmãos, eu me encaminhava à casa da minha avó e fiquei com a incumbência de dar de presente uma garrafa decorativa que com nada se parecia. Durante o percurso do metrô vazio às 8 da noite da véspera de natal, eu fiquei pensando na vida, nos natais passados e principalmente pra quem eu daria aquela garrafa esquisita. Lá chegando e após cumprimentar os mais de 40 presentes, eu chamei minha tia de canto e pedi ajuda no assunto delicado da garrafa, o que ela me respondeu de pronto:

_ Dá pra sua avó!
E eu:
_Nem ferrando, a vó vai me bater com ela!
E então veio a frase que me fez refletir por bastante tempo:
_ Sua avó vai adorar. Não porquê a garrafa é bonita ou feia, se serve ou não para alguma coisa; ela vai adorar, porquê você vai dar. Não é o presente em si, mas sim o fato de você ter se lembrado dela.

Com isso em mente, entreguei o pacote para a minha avó, que abriu um sorriso enorme e disse que a garrafa era linda e que ela iria colocar na estante. Confesso que na hora fiquei um tanto pasmo e não acreditei muito no que ela disse; achava que ela tinha dito para me agradar, mas depois vi que realmente ela tinha gostado e a garrafa está até hoje na estante dela.

O fato é que depois disso eu entendi o que meu pai me explicara a tanto tempo durante o jantar e que eu levei anos processando: O natal é uma festa de celebração do amor universal, comemorado no dia do nascimento daquele que foi o maior exemplo em demonstrar esse sentimento sublime: Jesus Cristo. Descobri também que o natal se transformou com o tempo em uma data de consumismo e que os velhos valores de solidariedade e amor são expressos da maneira correta apenas por um numero mínimo de pessoas, que sabem o verdadeiro valor dessa celebração. Porém, mesmo depois de velho, as únicas coisas que eu consegui aprender sobre o mito do Papai Noel foram:

1 – Que é um instrumento poderosíssimo para fazer meu sobrinho se comportar, pelo menos na época do natal
2 – Que a roupa dele é vermelha por causa da Coca-Cola.

O resto ninguém sabe me explicar.

Feliz Natal a Todos. Atrasado, eu sei, mas fazer o quê?

sábado, 22 de dezembro de 2007

Natal, Shopping e amigo secreto



Ultimo sábado antes do natal, você sabe que não terá mais tempo para comprar presentes pra seus amigos, familiares e para aquele amigo secreto que colocaram seu nome. Ao entrar no Shopping, o desânimo já toma conta. Como uma manada de selvagens, centenas de pessoas perambulam de um lado para o outro arrastando sacolas e crianças, vendedores ficam na porta falando todos juntos procurando captar clientes, um papai Noel visivelmente de saco cheio, auxiliado por duas moças em trajes mínimos, tira foto com uma criança no colo a cada dois minutos contados de modo a dar vazão para a fila, enorme, claro. A fim de sair daquele inferno o mais rápido possível, você traça seus objetivos e estratégias para cumpri-los. Não será fácil ou divertido, mas terá que ser feito.
O primeiro objetivo é tirar dinheiro no caixa eletrônico. Da entrada do shopping até os caixas são 3 lances de escada rolante e uma fila com aproximadamente 6 pessoas que nunca vão aprender a usar rapidamente um caixa automático. Você não consegue entender como uma pessoa consegue demorar mais que dois minutos nessa operação, mas elas conseguem. Cada um demora uma média de 4 a 6 minutos, o que significa que você perderá meia hora antes mesmo de começar a sua missão. Depois de enfrentada essa crise pré-missão e já com o dinheiro no bolso a idéia é conseguir matar o máximo de presentes em uma mesma loja. Claro que cada pessoa tem um gosto e demorar as vezes na escolha é inevitável, mas antes perder uma hora em uma loja escolhendo produtos do que três entrando de loja em loja sem saber o que fazer. Roupas são sempre presentes fáceis e o melhor a se fazer é entrar em uma loja de estilo básico. Estilo segmentado costuma dar merda! Ao entrar na loja seja claro, direto e objetivo com o vendedor: “Quero uma camiseta masculina preta, tamanho M, em uma faixa de preço de 40 a 60 reais”. Obviamente ele te mostrará umas 500, todas muito parecidas, mas mesmo assim você já ganhou algum tempo por ter direcionado seu pedido e com certeza a escolha não será tão difícil. Se tiver criança pequena para presentear, você tem um grande problema. Lojas de brinquedos na ultima semana antes do natal são simplesmente intransitáveis e toda a paciência que você estava lutando para resguardar será perdida. O mais indicado é comprar pela internet, apesar das taxas de sedex, mas se não tiver outro jeito e você tiver que entrar nesse maldito estabelecimento para comprar alguma coisa, tente não se desesperar. Entre sabendo o que quer, lojas de brinquedo no natal não são para pessoas indecisas. Se quer um carrinho, saiba qual o modelo, cor e marca. Se é uma boneca, saiba se é aquela que fala ou a que pula. Detalhes simples como esses salvam a vida. Não conte com a ajuda das vendedoras, 98% delas são debiloides, talvez por demasiada exposição ao choro das crianças ou às perguntas imbecis dos pais, que geralmente não tem idéia de como se pronuncia o nome dos brinquedos que seu filho quer.
Antes de sair de casa, almoce. Todo mundo que vai ao shopping gosta de lanchar e a praça de alimentação estará algo parecido com a bolsa de valores. Se bater a fome, coma um salgado na padaria do outro lado da rua depois que sair. Melhor morrer de gastrite do que de stress.
Depois de comprar tudo que deveria, gastar mais do que poderia e se cansar de ouvir o povo dizendo “ Feliz natal e um ótimo ano novo”, você faz uma checagem mental para ver se não faltou nada, se lembrou de todos os amigos e familiares e finalmente chega à conclusão que sua missão está terminada e em tempo recorde e pega o caminho do ponto de ônibus. Já no meio do trajeto de volta, com o colo abarrotado de sacolas, tentando ler um livro com os solavancos insuportáveis e nauseantes do coletivo, você põe a mão na cabeça, assusta a mulher do lado com o “merda” pronunciado alto, se lembra que não comprou o presente do amigo secreto e acaba comprando qualquer coisa depois na rua.
Por isso ninguém gosta do que ganha no amigo secreto.


domingo, 2 de dezembro de 2007

O Play do Lula



O futuro chegou! A nossa televisão de todo dia agora conta com transmissão padrão digital, em alta definição de imagem e som. Com um controle simbólico em mãos, o presidente Lula deu o “play” no futuro e transformou este dia em um marco na história brasileira, assim como fez Assis Chateaubriand nos anos 50. Porém, tão simbólico quanto seu controle e seu marco histórico, assim como fez Chatô, Lula deu seu “play” para ninguém. Ou quase ninguém.


Ao ser iniciado em São Paulo, um estado de 11 milhões de pessoas, o sinal digital efetivamente chegou para menos de mil habitantes, que são os possuidores de HDTV´s e Plasmas. Para eles, o futuro hoje anunciado já havia chegado, pois quem pode ter uma HDTV também pode dispor de um serviço de TV por assinatura, com padrão digital. Aqueles a quem interessa uma melhor resolução ainda não puderam fazer uso, e talvez nem conseguirão em tão curto prazo. Para se receber o novo formato de transmissão, as TVs devem conseguir “entender” o sinal que está chegando para poder transformá-lo em som e imagem. Como mais de 90% das televisões do país são analógicas e não “entendem” o sinal digital, os interessados deverão comprar um “decodificador” para ensinar aos seus aparelhos como receber programação digital. O preço desse “decodificador” ainda não foi fixado, mas os jornais noticiam algo em torno de 200 a 700 reais. Levando-se em consideração que o salário mínimo no Brasil é de R$ 380, o preço está um tanto salgado. Na cerimônia do “play”, o presidente disse que dessa ótica financeira o governo já se ocupou e que haverá um apoio por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aos varejistas, algo em torno de R$1 bilhão, para incentivar o povo a comprar o conversor e ter em suas casas a TV do futuro. É um número expressivo, mas para um país com 170 milhões de habitantes, esse incentivo talvez não seja grande coisa e o preço do conversor a primeiro momento continue acessível à massa.
Como no lançamento da televisão colorida, a TV digital por enquanto estará disponível para o povo apenas nas vitrines das lojas e chegará às suas casas apenas depois de a elite já ter algo melhor. Como aconteceu com o CD, o DVD e a telefonia celular, a nova televisão chegará às mãos dos menos favorecidos quando ela não for mais novidade, ou quando não tiver outra opção.


Alguns especialistas dizem que o grande “boom” da digitalização ocorrerá com a transmissão das olimpíadas de Pequim no próximo ano, mas não acho que o povo brasileiro seja fanático por olimpíadas a ponto de isso acontecer. Se ao contrário disso, fosse instituído que o “brasileirão” do próximo ano só poderia ser assistido por quem tivesse TV com recepção digital, eu acreditaria sem sombra de dúvidas que a indústria não conseguiria suprir o mercado por conta da demanda, mas por conta de uma olimpíada do outro lado do mundo eu duvido.


Cara ou não, acessível ou não, a partir desse 2 de dezembro de 2007 a TV digital de uma maneira ou de outra se tornou uma realidade; e como Chateaubriand, o presidente deu o pontapé inicial em um jogo que ainda não se mostrou emocionante, mas tem visual bonito, som de cinema e com certeza vai dar o que falar!


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sobre meninos e tartarugas

Lendo o texto sobre orientação vocacional no blog do Fábio, me dei conta de como vocação é uma coisa engraçada. No texto, ele escreve como sempre quis ser jornalista e que escolher a profissão que ia seguir nunca foi dúvida. Achei muito legal, porque sempre achei que deve ser muito bom crescer já sabendo seus objetivos e o que vai ter que fazer para alcançá-los. Diferente dele, eu nunca soube muito ao certo o que queria da vida e nem do que gostava. Lembro-me de uma vez, quando ainda era criança, conversar com o meu pai sobre estudar “oceanografia” e ele dizer que era muito legal, mas o mercado era pequeno. Eu não tinha idéia do que era “mercado”, apenas achei fantástica a foto utilizada na época pela universidade que oferecia o curso, que mostrava um mergulhador, um recife e uma tartaruga. Pra mim “oceanografia” era mergulhar com tartarugas. Quem ia me pagar pra fazer isso eu não tinha a mínima idéia e sinceramente não me importava. Já um pouco maior, me lembro de outras conversas com meu pai, onde ele me sugeria estudar direito, ser um juiz ou um advogado tributário, pois é uma profissão que dá muito dinheiro. Na época me pareceu fantástico, pois ser juiz pra mim significava poder prender os outros e embora não tivesse nem uma vaga idéia do que significava ser um “tributarista”, pelo nome eu já julgava uma coisa importante. Depois de um tempo, descobri que para ser um bom advogado, a pessoa precisa gostar de ler e saber escreve, o que me deixou muito frustrado, pois não gostava muito de ler e era péssimo nas aulas de gramática (A professora Maria Andrade que o diga!).

A época do vestibular chegou e eu ainda não tinha uma idéia certa do que queria fazer. Lembrava-me das conversas que tive com meu pai quando era mais garoto e apesar de ainda não saber escrever muito bem, eu já adorava ler e achava que isso bastava para me dar bem em direito. Com isso em mente, fiz o vestibular para o curso e comecei na universidade muito empolgado com o novo ambiente. Descobrir ser parcialmente verdadeira a lenda de que é preciso gostar de ler para estudar Direito. Na verdade, não é preciso gostar, é preciso ter paciência e atenção, pois não são leituras para se apreciar. Até ai tudo bem, sempre tive paciência para ler e realmente ia razoavelmente bem nas provas, mas depois de oito meses tive um primeiro estalo de que talvez estivesse indo para o lado errado. Na época ignorei, achava que era por conta do currículo puxado, aulas e leituras cansativas e por isso deixei de lado. As férias estavam chegando e eu teria tempo para descansar e voltaria com todo o gás.

Nesse meio tempo, comecei a trabalhar em um escritório de advocacia onde pude ver de perto qual é o dia-a-dia de um profissional de Direito. Foi um lugar onde aprendi muito e onde ainda trabalham pessoas que admiro muito pela inteligência e perfeccionismo. Porém, tanto no trabalho quanto na faculdade eu sempre percebi que não era e nem pensava como a maioria. Dentro de sala, eu tinha amizade apenas com apenas cinco pessoas, em uma sala de cento e vinte. Ao contrário da minha maneira de ser, a maioria era muito séria e reservada. No trabalho, eu era o único a esquecer de fazer a barba todo dia e ter que ser lembrado disso pelo chefe. Também era o único nesses lugares que achava que juízes não eram deuses e por isso não deveriam ser venerados como tal, coisa que eles adoram. Depois do primeiro semestre do segundo ano decidi que aquilo tinha que parar, pois não agüentaria a vida toda usando terno e gravata e fazendo a barba todo dia. Nesse ponto eu sabia o que eu não queria, o que era uma grande coisa, mas ainda não sabia o que queria, o que era um problema. Comecei então a pensar em qual profissão eu me daria bem, levando em consideração que eu gostava muito de ler e já escrevia razoavelmente bem, apesar de não gostar. Eu sabia que o tempo estava passando e que eu teria menos de um semestre para decidir, mas já havia perdido dois anos e não queria perder mais um. Pensei inclusive em parar por um ano e avaliar o que queria, mas isso também ficou fora de questão. Um dia conversando com meu primo, ele me contou que tinha muita vontade de fazer jornalismo, que achava muito legal e nesse momento tive um estalo: Jornalismo! é isso!
Daí pra frente foi convencer minha família de que isso era o que eu queria, pois todos diziam que esse é um mercado pequeno e difícil para um profissional se destacar, mas como na época da Oceanografia e da tartaruga, mais uma vez eu me peguei me lixando para o mercado. Eu queria estudar jornalismo e assim seria! Assim foi!

Comecei a três anos atrás e não lembro nem uma vez de ter me arrependido. Conheci pessoas maravilhosas, vivi coisas incríveis e cultivei uma extrema paixão por escrever, embora ainda não tenha uma extrema competência para tal. Somente duas lembranças me vêm à cabeça quando penso se estou no caminho certo: A primeira vez que vi uma matéria publicada com meu nome e a primeira vez que recebi uma credencial de imprensa. Nesses dois momentos eu tive que me segurar para não deixar cair nenhuma lágrima e ser chamado de veado pelos meus amigos do serviço, que achavam aquilo corriqueiro. Com o tempo eu também passei a achar cotidiano ver meu nome no expediente, publicar matérias assinadas por mim e receber credenciais de imprensa, mas como tudo na vida, na primeira vez foi especial. Tanto é, que ainda tenho guardada minha primeira credencial junto à minha carteira de motorista.
Essas coisas foram definitivamente importes para me mostrar que tomei o rumo certo, apesar do desvio. Porém, a coisa que mais me deixou mais feliz durante esses três anos que faço jornalismo, é não precisar fazer a barba todos os dias!

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Public Speaking



Falar em público pra mim é um suplicio. Geralmente não sou uma pessoa envergonhada ou tímida, mas toda vez que sou chamado à frente de qualquer platéia com mais de dez pessoas meu organismo se recusa a trabalhar com eficiência, o que se traduz em uma série de embaraços.


A perdição começa no momento que sou chamado. O sangue parece que some das pernas e que eu estou prestes a ter uma gangrena, pois não consigo caminhar em linha reta ou velocidade constante. Fico meio galopante e torto. Sempre procuro sentar na ponta da fileira quando sei que vou ter que levantar, pois sempre que estou nessa condição fico apavorado com o risco de tropeçar nas pernas dos sentados e acabar deitado no colo de alguém. Meus braços e mãos são outros pontos onde não posso ter confiança, pois ao contrário dos mímicos, políticos e professores de história, eu nunca sei o que fazer com eles quando quero me comunicar em público. Parece que transformam em apensos inúteis do meu corpo, que não fariam a menor falta se pudessem ser desconectados naquele momento, para serem reintegrados depois. O que me sobra é a fala. Por obra de Deus, da genética e do destino, minha cabeça é proporcionalmente grande ao conteúdo que ela pode armazenar e meu vocabulário é muito bom. Porém, a mesma sinapse cerebral que me faz andar torto e balançar os braços, também faz com que minha dicção trabalhe com apenas 20% da capacidade total, o que na prática significa que eu começo a gaguejar desde o momento em que dou boa noite.


Uma vez na frente de todos, respiro fundo e tento encontrar algum lugar para me encostar, de modo a aliviar um pouco a tremedeira e o corpo mole. Para quem assiste, deve ser cômica a cena de um rapaz encostado na lousa, com suor brotando aos litros pelas têmporas e rindo de nada, como a hiena mais idiota do seu bando. Já tentei usar algumas técnicas que um ou outro amigo disse que usava nesses momentos como, por exemplo, focalizar uma pessoa na platéia e fingir que está dizendo tudo somente pra ela, de modo a aliviar a pressão. Confesso que a idéia me pareceu boa da primeira vez, mas desisti um minuto após começar a utilizá-la pois tive a nítida impressão que estava parecendo um cego, com os olhos vidrados. O Jeito é tentar parecer o mais natural possível, não me movimentar muito e me focalizar no que estou dizendo. Impossível! Segundos após ter começado a falar eu noto que alguém está com o nariz sujo, a calça aberta ou algo do gênero, o que me faz com que eu me perca no meio das frases ou comece a falar mais devagar, como se sofresse de algum distúrbio cromossômico.


Geralmente o pânico só passa quando ouço as palmas. Nesse momento parece que o sangue voltou a circular, deixando raciocínio, coordenação motora e dicção razoavelmente em ordem. Nesse momento, apenas uma frase pode me fazer voltar ao estado de catalepsia cerebral:


“Eu tenho uma pergunta Flávio!”


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Sementes do futuro

Ser professor é uma atividade que exige paixão, mas ser professora de maternal exige coragem. Tomo como exemplo a escola onde meu sobrinho passa o dia. A impressão que tenho é que dos muros pra dentro, aquele estabelecimento é uma espécie de Faixa de Gaza onde mais de 15 mini-terroristas disputam palmo a palmo quem consegue enlouquecer primeiro a professora. Me lembro da única oportunidade que tive de ver esse circo montado. Em um sábado no horário de almoço, fui informado pela minha irmã que meu sobrinho iria “apresentar um trabalho” na escolinha e que ela não poderia comparecer e se eu poderia fazer o favor de levar e acompanhar a apresentação. “Claro”, disse eu, e por ai a saga começou.

Para começar, a semelhança física com meu sobrinho faz com que todos pensem que eu sou o pai e me olhem com aquela típica expressão de quem diz “viu só? Não usou camisinha, é nisso que dá”. Não que eu me importe, mas juntos, nós dois viramos praticamente atrações de circo, vigiados o tempo todo pelos outros pais, que desconfio até tapam os olhos das suas crias para que não vejam o suposto mau exemplo. A confusão continua com as coordenadoras, mas elas geralmente são simpáticas com o "pai de primeira viagem".

Depois de entrar na sala, percebi que eu era o único “pai” que não estava com uma máquina fotográfica. Todos os outros tinham e não paravam de fotografar um segundo sequer. Tinha um inclusive, que tinha uma máquina fotográfica enrolada em uma mão e uma filmadora na outra. Com aquele mar de “flashs” em cima das crianças, eu não sabia o que fazer e uma das professoras percebendo isso veio me mostrar os trabalhos que meu sobrinho realizou durante o bimestre. Não sei se é a falta de vocação pra paternidade, mas confesso que tive que me mostrar bem mais empolgado do que estava, pra isso segui o exemplo dos outros pais: Peguei o meninão no colo e fiz um monte de perguntas sobre o boneco com cabelo de grama que ele montou. Claro que ele não respondeu nenhuma, pois as professoras devem ter feito 80% do serviço, mas o ato serviu para me integrar ao ambiente. Depois de alguns minutos as professoras chamaram a atenção dos presentes, dizendo que iriam iniciar a apresentação. Fomos todos para o fundo da sala, onde tinham alguns vasinhos e regadores de plástico alinhados. O trabalho consistia em enfileirar as crianças em frente aos vasos e dar-lhes uma semente, que seria plantada enquanto elas falavam uma frase mais ou menos assim: “Com essa semente, novas arvores vão nascer e no futuro vão crescer”. Simples, bonito e teoricamente rápido. As professoras então posicionaram as crianças e eu fiquei no canto, ao lado de uma das coordenadoras para não atrapalhar as máquinas fotográficas e ter uma visão privilegiada do espetáculo.

A apresentação começou e as crianças à medida que recebiam as sementes, na mesma hora as colocavam no vaso sem esperar pelo aviso e a professora tinha que dar outra e explicar que tinha que ficar segurando. Depois da décima criança, eu percebi uma certa revolta no rosto da coordenadora, mas fiquei na minha. Depois de uns 20 minutos ela finalmente consegue deixar todos os alunos com sementes nas mãos e então pede que eles coloquem nos vasos e repitam a frase que eles ensaiaram. O balanço foi esse: Das 20 crianças, 10 colocaram a semente no vaso e não falaram nada. 3 falaram, mas não colocaram a semente no vaso. 7 não colocaram a semente no vaso e nem falaram nada. No meio desse último grupo estava meu sobrinho. Tentando dar um ar bem humorado à cena, eu me virei para a coordenadora e falei “ Houston, we have a problem!”. Não sei se ela não entendeu, ou se entendeu e pensou que eu estava fazendo pouco do método de ensino da escola, mas de qualquer forma, ela ensaiou um sorriso amarelo, disse algo como “tinha que ver no ensaio, eles fizeram direitinho”, saiu do meu lado e foi para o lado do pai com a máquina fotográfica e a filmadora, que provavelmente estaria ocupado demais para fazer qualquer piadinha com ela. Na segunda tentativa as coisas foram muito melhores: 13 a 7 para as professoras e em respeito às 7 crianças que não se dobravam ao sistema, entre elas meu sobrinho, eu comentei com a mãe que estava do meu lado,: “ viva la revolución”. Ela também não entendeu e eu senti a necessidade de aprender novas piadinhas que fossem mais coerentes com esse novo mundo. Não houve uma terceira tentativa para o trabalho. Vencidas pelo cansaço, as coordenadoras sorriram todas amarelo para os pais babões e relembraram com orgulho do ensaio, botando a culpa pelo fracasso em algum suposto embaraço das crianças de falar em público. Terminado o trabalho eu rapidamente cheguei ao ouvido do meu sobrinho e falei “vamos pra casa?”, o que ele respondeu com um sorriso de cumplicidade. Lembrando-me então da época que meu pai ia às minhas reuniões de escola e não queria ouvir dos professores que eu era um vagabundo, eu cheguei à professora do meu sobrinho e disse com uma cara de chateado: “ Professora, infelizmente a gente não pode ficar, porque a mãe dele está trabalhando e eu tenho uma viagem marcada para as 4 da tarde.” Ela fez uma cara de tristeza e se virou para cumprimentar meu sobrinho, mas ele já estava fora da sala me chamando. Como um bom pai eu dei a mão para a professora, fiz uma cara de “Essas crianças”, peguei a mão do meninão e passei novamente pelo corredor para ser discriminado pelos outros pais, trazendo na mão o boneco de grama e uma dúzia de cartazes.

E que venha a festa de natal

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

A entrevista



O despertador toca às 6, você tem que estar em um lugar de São Paulo que você nem conhece às 8 e de maneira nenhuma pode se atrasar. Levanta, toma um banho pra tirar a cara de travesseiro, escova os dentes e coloca o uniforme, composto de camisa e calça sociais e um sapato, come um pedaço de pão e deixa sua casa com a mente focada na missão que está por vir: Uma entrevista de emprego.

Escrito em um papelzinho no bolso está o endereço da empresa, nome da entrevistadora e os nomes dos dois ônibus que você vai ter que pegar para chegar lá. Por mais sonolento que esteja, afinal fazia tempo que você não sabia que existia vida antes das 10, você não irá dormir no ônibus, pois pode errar o ponto de descida do ônibus e perder o horário. Quando finalmente, uma hora depois, você chega à empresa, você está trinta minutos adiantado no horário e já sobe confiante de que cairá nas graças da entrevistadora por ter sido mais que pontual. Infelizmente o que se verifica depois é que você está competindo com um bando de desesperados que provavelmente dormiram na porta do prédio. O próximo passo é avaliar a concorrência. Até ali sem problemas pois você está competindo com um cara de ”All Star” e barba por fazer e outro que está vestido exatamente como você, que é inclusive até parecido. Ou seja, se continuar naquele páreo, suas chances são grandes. De canto de olho você percebe que o hippie pegou uma “contigo” e o seu sósia o caderno de esportes do jornal de ontem pra ler e você, para não ficar por baixo e até sair com alguma vantagem, você pega uma “veja”, faz cara de entendido e finge que está lendo o furo de reportagem do século esperando que a entrevistadora entre naquele momento e tome nota, o que não acontece. Passados alguns minutos do horário marcado, você vê entrar uma menina de aparentemente 17 anos, vestida para um show de pagode, que não sabe nem pra qual vaga é a entrevista e resolve perguntar a você. Com um meio sorriso você se mostra um bom cidadão e explica, já marcando a loirinha como carta fora do baralho. Já se passaram quinze minutos desde as 8:00 e a entrevistadora aparece sorridente dizendo para esperarmos um pouco mais pois ainda faltam alguns candidatos que devem estar presos no trânsito. Todos em uníssono respondem com o sorriso mais simpático que conseguem fazer as 8 da manhã: “claro, sem problemas”. Entediado com a espera, você puxa papo com a loirinha, que está com cara de quem ainda não descobriu o que foi fazer lá. Descobre que ela mora longe, acabou de começar a faculdade e que a experiência anterior dela no mercado de trabalho foi vendedora no shopping. Ela provavelmente perguntará as mesmas coisas pra você e você dirá de modo educado e humilde que mora em um bairro mais próximo de lá “aqui do lado”, estuda a mais tempo “estou quase terminando” e que tem tanta experiência em jornalismo que se o Willian Bonner um dia passasse mal, a Globo te ligaria correndo. Além de abalar psicologicamente e ganhar a simpatia da loirinha, você deixará no ar para os outros candidatos, que estão com certeza ouvindo, um sinal de que é uma pessoa difícil de ser batida. Depois de dois candidatos entrevistados, abrem a porta da salinha e você está anotando o MSN da loirinha, mas rapidamente se vira e identifica o vulto da entrevistadora acompanhada de um rapaz. Ela chama seu nome e quando você se levanta pra sair e enfrentar a mulher, entra o ultimo candidato: Um jovem vestindo um terno sob medida, provavelmente um “Hugo Boss”, e com cara de inteligente. Você prefere pensar que ele foi pra lá pra comprar o escritório e não pra se candidatar a nada, mas não tem tempo para averiguação e vai para a sua entrevista sabendo que tem naquele rapaz, um oponente de peso.

Sentado em frente à entrevistadora você tenta se mostrar o mais a vontade possível e sorri o tempo todo. Fala dos seus antigos empregos e quanto aprendeu com eles, responde de imediato quando ela pergunta se você aceita a mixaria que eles oferecem para arrancar o seu couro “Sim, claro”, mostra que sabe fazer de tudo e que o que eventualmente não souber aprenderá depressa, pois é alguém de garra e fibra. O tormento só acaba quando você ouve “Então é isso Flávio. Nós entraremos em contato.”. Antes de sair você ainda tenta dar uma ultima olhada nos outros candidatos, mas passa muito rápido pela saleta onde eles estão e não consegue ver ninguém. Dalí, só te resta ir pra casa e esperar.

Dias depois, sem ter recebido ligação nenhuma e conversando pelo MSN com a loirinha, que você descobre que estava na entrevista sem saber nada por que havia sido indicada de última hora pela recepcionista da empresa, você descobre também que entre o seu sósia e o Hugo Boss, quem agora trabalha como estagiário na empresa é o Hippie.
Maldito jornalismo!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Valeuu

Acho que a parte mais legal de se montar um blog, flog ou coisa do tipo, não é nem a de poder divulgar suas idéias, por mais "não lineares" que elas sejam, como as minhas, mas a interatividade que por natureza esse tipo de comunicação sugere. Desde que comecei a "blogar", houveram críticas, dicas e elogios a esse espaço e isso me deixou muito contente. Quem me conhece sabe o quanto gosto de escrever, embora nem sempre tenha a competência necessária para isso. Por isso, quero agradecer quem está dando força, lendo e comentando, tanto por aqui quanto por msn, os resultados das minhas horas de brisa em frente ao micro.

Vlww e até amanhã!

P!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Boa Forma



Folheando as revistas que minha irmã assina, tenho impressão que as pessoas acham que gente gorda é doente. Em todas as chamadas de capa tem algo como “PERCA 7KG EM UMA SEMANA”, “XÔ BARRIGUINHA”, “ O FIM DOS PNEUZINHOS SEM ACADEMIA”. Tudo para mostrar que você não precisa ser um gordo triste, pode ser uma pessoa magrinha, que todos vão amar. Estamos no auge da era “gordicida” e ninguém com IMC acima de 25 sairá ileso. O primeiro sinal foi Arnold Schwarzenegger ser eleito governador da Califórnia e quando for presidente da maior potência do planeta, o ex-fisiculturista se tornará novamente o exterminador e irá atrás de qualquer célula adiposa que se colocar em seu caminho. Seguindo a tendência, o Brasil elegerá a Solange Frazão como a primeira presidenta do país e o programa “café com a presidenta”, produzido pela Radiobrás, será destinado à aulas de abdominais e receitas de Shakes dietéticos. Haverão políticas sociais de conscientização, passeatas pelos regimes e a herbalife se tornará uma religião. Daí em diante, as padarias serão obrigadas a vender pão sem miolo, doceiros serão perseguidos e torturados e a cotação da lata de doce de leite se equivalerá a um barril de petróleo.

A indústria da moda já vem se preparando há tempos para essa nova geração. Vi em um filme que o 38 é o novo 40 e o 36 o novo 38. As modelos se aproximam cada dia mais da perfeição em seu trabalho, que é parecer um cabide e as pessoas sentem que podem ficar parecidas com elas passando 14 dias trocando o almoço por uma fatia de abacaxi. E pra quem não gosta de abacaxi, existem as empresas de estética que sugam a sua barriga com um aspirador e parcelam o serviço em até 36 vezes, uma verdadeira democratização da beleza. Pra quê ser feio e gordo se você pode ser esbelto e belo por módicos meses de recuperação e anos de pagamento?
Corra e escolha logo o plano que melhor se ajustar ao seu corpo e couber no seu bolso, pois o tempo urge, o verão está chegando e do jeito que as coisas andam, você pode estar correndo o risco de ser expulso da praia.

Novidade

Como ja comentei anteriormente, não sou exatamente uma pessoa antenada com novas tecnologias, levo tempo para me adaptar com coisas novas e com essa página não foi diferente. Ainda estou trabalhando no Layout do Blog e tentando colocar coisas novas sempre. É um processo lento e gradual, mas aos poucos tudo vai se acertando.

Depois de fuçar por cerca de uma hora nas opções de Layout e configurações, finalmente consegui achar um espaço para colocar meus blogs e sites favoritos. Por enquanto, são poucos, apenas dos meus amigos de facul e outros que acompanho sobre automobilismo, além do site olhares.com, sobre fotografia, que eu sempre entro para dar uma olhadinha.

Espero que gostem.

domingo, 18 de novembro de 2007

Futebol

Viver no Brasil e não gostar de futebol é um crime não previsto no código penal, mas punido severamente pela sociedade como se fosse uma condição “sine qua nom” para qualquer cidadão que queira ostentar a sua nacionalidade. O modo de coerção utilizado pelo povo para punir quem não se identifica com o esporte é a segregação. A menos que você saiba pelo menos as cinco primeiras posições na tabela do campeonato vigente e o resultado dos dois últimos jogos do seu time do coração, você jamais conseguirá acompanhar os rumos das conversas do buteco que sua turma freqüenta e muito menos ter qualquer nível de amizade com o tiozinho da padaria onde você compra pão e leite toda manhã. Pode parecer bobagem, mas não saber responder com precisão quando ele comentar “E o Corinthians hein?” pode te custar pães mais torrados do que você pediu, uma demora monstruosa para fatiar a mussarela e uma careta do padeiro, que com certeza vai achar que você é palmeirense e não respondeu com boa vontade por que seu time está na zona de rebaixamento e com o volante suspenso para a próxima rodada.

No meu caso o problema é ainda maior, porque além de não gostar de futebol, ainda sou louco por corridas de carro, principalmente F1. Não é um gosto tão estranho se levarmos em consideração que na Coréia as pessoas comem cachorros, mas a impressão que eu tenho quando comento com alguém a minha paixão é justamente essa: Que acabei de narrar em detalhes meu banquete de São Bernardo, acompanhado de um Pinsher de sobremesa. Ninguém entende. E o que é pior: quem acaba constrangido no final das conversas sou eu!

Há uns dois meses, eu entrei no mercadinho da frente da minha casa decidido a fazer o senhor do caixa, que deve ter uns 50 anos, se sentir tão idiota quanto eu me sinto todos os dias. Para isso, entreguei-lhe as mercadorias que ia comprar e antes que ele pudesse comentar qualquer coisa sobre o “brasileirão”, eu comentei com uma cara de vencedor algo como “e a Ferrari hein? Que vitória!”. Para meu azar, ao contrário da cara de pastel que eu normalmente faço, ele simplesmente me olhou com o maior ar de desinteresse do mundo e disse: “Eu não vi filho, deu R$7,00, vai querer sacolinha?”. Sai de lá praticamente depressivo, me sentindo um verme pela esnobada e um burro por nunca ter pensado naquela resposta tão simples.

Pior do que os que não se interessam, são aqueles que fingem interesse por solidariedade e quando me vêem com a camiseta da Ferrari, se apressam em dizer que o Barrichello é a maior vergonha que o Brasil já teve no esporte e que, além do Ayrton Senna, nenhum outro brasileiro prestou. Pra terminar, emendam a clássica: “Na época do Senna que era bom, dava graça de assistir”. Nessa hora normalmente eu só concordo com um meio sorriso e mudo de assunto. Não que eu não concorde que o Ayrton seja o melhor piloto que o mundo já tenha visto, pelo contrário, sou fã incondicional e discuto energicamente a favor disso (geralmente sozinho, claro) mas o que me incomoda é que a única coisa que todo mundo lembra da F1...é o Senna! Como no futebol, onde tivemos o Pelé, mas também tivemos e temos outros excelentes jogadores. Nenhum me passa pela cabeça agora, mas o exemplo foi só pra ilustrar.

Somente de quatro em quatro anos eu me sinto verdadeiramente brasileiro: Na copa do mundo. Torço, grito, xingo o juiz e falo mal da narração do Galvão Bueno como um verdadeiro fanático. Arrisco inclusive alguns comentários técnicos sobre táticas, como o momento certo pra trocar o meio campo ou se o Ronaldinho deveria estar jogando mais atrás, para ajudar os alas. Em situações como essa, só tem uma coisa sobre a qual não me permito opinar e que tenho certeza que jamais na minha vida eu vou descobrir:
O que diabos faz um volante?

sábado, 17 de novembro de 2007

Eu tenho medo de baratas!



Sei que sou homem e que para honrar as cuecas que visto não deveria jamais fazer uma confissão como essa, mas é a pura verdade. Acredito que no reino animal não exista inseto mais sádico que a barata. Furtivas, elas se escondem nas sombras, aparecem do nada e te pegam nos momentos em que você está mais desprevenido, para logo depois sumirem novamente.

Já tive milhares de encontros desastrosos com esses seres e tenho as cicatrizes para provar. Como no dia em que estava no banho, justamente enquanto lavava meu cabelo, permanecendo de olhos fechados e senti um caminhar leve sobre o meu pé. Sem tempo para pensar, com sabão nos olhos e tão ágil quanto qualquer homem sedentário de 70kg, eu rapidamente saltei e ensaiei um “low kick” com minha perna invadida, que bateu contra a parede do Box. Por conta de um leve erro de cálculo na rota de aterrissagem, somado ao agravante de resíduos de “Shampoo” no chão molhado, minha perna de apoio escorregou para frente, a outra perna ainda tentou chamar pra si a responsabilidade pelo equilíbrio, mas já era tarde demais. O choque com o chão do banheiro parecia inevitável, mas não era a pior parte da cena. Naquele momento, meu maior medo era cair em cima da barata, que provavelmente ainda estaria ali, uma vez que a porta do Box estava fechada. Para que isso não acontecesse, em milésimos de segundo, eu estiquei meus braços e usando de toda a minha envergadura corporal, consegui me agarrar com uma mão ao registro de água do chuveiro e com a outra à saboneteira parafusada na parede, que infelizmente não agüentou e cedeu, aumentando a carga do meu peso apenas no outro braço, que por sua vez girou com violência o registro, aumentando a vazão e causando o esfriamento imediato da água sobre o meu corpo ainda meio ensaboado. Por um dos insolúveis mistérios da fisiologia humana, ao ser atingido com um golpe de água gelada meu corpo pareceu adquirir vida própria e em uma série de movimentos que nem eu sei ao certo como foram realizados, em tempo recorde eu já me encontrava sentado na outra ponta do banheiro, ao lado da privada, avaliando os destroços da ex-saboneteira e pensando como a vida é curta e em como de uma hora as coisas podem ficar difíceis.

A barata sumiu, é claro.