quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Quem gosta de buteco...

Sabe quando a cerveja está no ponto;

prefere copo de vidro;

Conhece pelo menos cinco marcas de cachaça;

conhece o dono e os garçons do bar que costuma freqüentar;

arranha alguns acordes caso algum violão esteja à mão;

Sabe conversar por horas com alguém sem perguntar o nome;

Sempre esquece alguma coisa na mesa;

E sempre ama a mulher errada, afinal, precisa de motivo para beber....

domingo, 30 de novembro de 2008

Dois registros

Mais uma vez você está naquela situação: No banheiro, pelado dentro do box, encarando um par de registros que brotam da parede e pensa “de novo...”. Hoje em dia até para tomar banho existe técnica. Como se não bastasse a dificuldade que você já passa no dia-a-dia para gravar nomes no celular, programar o rádio-relógio e ajustar a hora no microondas, a modernidade faz questão de te trazer chuveiros com dois registros, ou “ducha”, na linguagem dos mais frescos.
Agora elas estão em todo lugar, desde motéis vagabundos de beira de estrada, até casas de milhões de reais em Alphaville, menos, é claro, na sua casa. No banheiro do seu apartamento de 70m² localizado na Zona Leste de São Paulo, o chuveiro tem apenas um registro e é dificílimo acertar o ponto ideal de abertura para um banho agradável. Se abrir meia volta do registro, a água já estará gelada; tem que abrir só um “cabelo”, a água vai ficar “pelando”. Para se tomar banho em um chuveiro assim, é necessário habilidade, uma vez que acertado o ponto ideal de temperatura, ele o mantém apenas por alguns minutos, para logo em seguida desligar e gelar de uma hora para a outra a água que cai nas suas costas. Para não dizer que não rola um aviso, ele deixa de fazer barulho, e esse é o momento em que você tem que saltar pra frente para sair do caminho da água, tentando não desequilibrar no chão molhado e se esborrachar. Porém, depois de anos de treino, os três ou quatro “saltos de desvio” por banho se tornam automáticos e você já nem se preocupa com esse detalhe. A ducha, porém, é um sistema diferente, e nem sempre padrão no que diz respeito ao acionamento. Na teoria, é sabido que uma das torneiras liberará a água quente e a outra a água fria e que a somatória das duas tornará o seu banho morno e agradável, mas ali na hora, qual escolher? Não adianta invocar qualquer conhecimento prévio em outras duchas, pois se na casa da sua avó a da esquerda é a quente, no motel da esquina pode ser a da direita. Tal qual uma “Porta da esperança” dos infernos, qualquer uma das opções irá te foder, e não adianta querer abrir as duas ao mesmo tempo, será impossível, pois você nasceu destro e não tem a mesma habilidade motora com a mão esquerda, que tem com a direita, além da óbvia posição que você ficaria ao tentar abrir os dois registros de uma só vez: Com as costas exatamente na direção da água, à mercê de qualquer falha técnica do sistema. Assim sendo, só lhe resta duas opções: Escolher um dos dois registros ou ir fedendo ao trabalho. Como a segunda opção é inviável, só lhe resta confiar nos seus instintos e esperar pelo melhor.

Com isso em mente, você escolhe abrir a fria primeiro, melhor aguentar alguns segundos de água gelada do que ver o couro das costas descer pelo ralo com a água fervente. O próximo passo é descobrir qual das duas é a torneira fria. Você olha fixamente para as duas, tentando achar algum sinal que denuncie qual é qual. Sinais “F” e “Q”, pontinhos azuis ou vermelhos no centro, enfim, qualquer coisa que lhe avise qual torneira é a que você quer abrir. Não há nada. Você então segura cada um dos registros em uma das mãos e tenta sentir a temperatura, imaginando que o registro da água quente estará (claro) mais quente. Nada!

Já atrasado para o trabalho você decide arriscar, fica o mais longe possível da direção da água, estica o braço em direção ao registro da direita e vira de uma vez e...

Nada acontece, tinham tirado a ducha, instalado um chuveiro e o outro registro que era o certo...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Inversão de Valores

20 – 10
10 – 20

Isso é que é uma completa inversão de valores, o resto a gente atura….

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Não serve pra nada!

Todo dia ele passava por aquela lavanderia de roupas à seco. Sempre achou que aquilo não servia para nada, tanto que dizia para si mesmo e para os outros: “Isso não serve para nada”. Dentro de um supermercado, que raios faria uma lavanderia? Ele mesmo, nem ninguém que ele jamais conhecera, nunca levou cuecas sujas para dentro de um supermercado. Na sua concepção, mercados eram feitos para se adquirir coisas, não lavar as que estavam sujas. Roupa suja se lava em casa, isso era no que acreditava!
Porém, só o fato de aquele estabelecimento existir já era um incômodo. Como se não bastasse não servir para nada, ainda era mal localizado, pior até do que a revistaria de nome “News” (outro estabelecimento incômodo, pelo nome). Ficava ao lado dos caixas eletrônicos, de frente para uma parede, que não era bem uma parede, era meio madeirite, saca?
Um dia, de long neck em punho ele procurava uma solução. Era cerveja argentina, sem tampa-rolha, daquelas que a gente gira e tira, e rasga a camiseta. Essa tinha que ser com abridor.
Decidido a resolver o problema com a cerveja e o dilema da utilidade da lavanderia, para lá se dirigiu. Entrou, deu boa tarde e perguntou à morena que o recebeu com um sorriso: “Tem abridor?”. Estática a moça tenta absorver a pergunta, mastiga, não engole e torna: “Abridor?”. “É”, responde ele e levanta a garrafa à altura dos olhos da atendente. Visivelmente travada ela responde com o melhor sorriso que consegue inventar para uma pergunta como aquela “Não, desculpe”. Indignado ele nem responde, se vira, sai pisando duro e repetindo:

Eu sabia!

sábado, 8 de novembro de 2008

Paranóia

O que fala de você para o companheiro, aquele homem sentado na calçada, sujo e com o rosto queimado de sol? Que teve mais sorte que ele na vida, que devia agradecer por onde dorme, pelo que come e pelo que veste? Ri da sua falta de liberdade? pelo seu trabalho em horário comercial e contas a pagar? O que fala de você aquele cara com quem você estudou na 3ª série, que cruza seu caminho? Que foi uma grande amizade, que vai marcar uma cervejada com a velha turma, ou que apenas viu um rosto familiar na rua?
E aquela menina que te paquerava no serviço, diria para a nova estagiária que você agora está mais bonito, que é alguém de sucesso, que ama o que faz? Talvez diga que deveria ter continuado na antiga faculdade, no antigo emprego, com as velhas amizades e velhos valores...
O que fala de você para o garçom, o dono do boteco que você freqüenta? Que é um amigo que passou por lá para tomar uma cerveja, papear e comentar os últimos lances do último clássico no Pacaembú? Que é um bom cliente, que não tinha 50 reais na carteira para honrar as doses de uísque que tomou e pendurou na caderneta para acertar amanhã?
Em uma balada na Vila Olímpia, o que dizem sobre você os amigos da sua menina, quando descobrem que você anda de ônibus, que usa tênis barato e que está com dinheiro contado para a noite? Que era um cara gente boa, engraçado e que esperam que apareça mais vezes, ou de que buraco uma menina tão bonita tirou um traste como este? E quanto àquela moça em roupas mínimas e maquiagem pesada, que circula por uma esquina do centro, contando os minutos para voltar para vida real? Diria para moça da outra esquina que você foi mais um cliente a se deitar na sua cama e se embebedar da sua luxúria ou que foi alguém especial, que ela quer conhecer melhor?
O que fala de você para as amigas, aquela menina que te sorri quando não precisa, que se fecha quando indagada e que te beija inesperadamente?
Provavelmente nada, você que anda paranóico...

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O fim

Naquele momento, os dois sabiam que não teria outra vez, mas estavam tranqüilos. Ela deu aquele sorriso de meio-lábio, quase um pedido de desculpas, mas não chegou a dizer. Ele apenas devolveu o gesto, coçou a cabeça (como sempre faz quando está nervoso) e deu um gole no conhaque, que de algum modo descia mais fácil do que aquela situação.
Não importa quem fez o quê, quem deu o primeiro passo ou o último olhar. Depois daquela noite não haveria mais nada, não que antes houvesse, mas aqueles momentos eram decisivos. Dali para frente eles seriam outros, com muitos outros e outras, em outros tempos e locais, mas entre si, nunca mais.
Na hora da despedida, os dois se abraçaram e ele pensou em pedir um beijo, mas desistiu...
Às vezes é melhor deixar as coisas como estão.

domingo, 2 de novembro de 2008

copiado

Tenho dois blogs, como a maioria deve saber....

Esse trata de absolutamente nada e outro que trata da F1, minha grande paixão.

Dessa vez, fiquei em dúvida sobre onde postar esse comentário, pois era pessoal demais para ser colocado no F1-09, e segmentado demais para por aqui. Decidi postar nos dois.

Ainda estou triste pelo campeonato, e mais triste ainda de saber que só vou ter alguma emoção em Março do ano que vem....

Mas enfim, F1 é assim, e amor não se escolhe.

Emoção

Sempre estranhei quando meus amigos se emocionavam com futebol. Na verdade, nada nesse jogo nunca me pareceu muito correto. 20 caras correndo atrás de uma bola e mais dois tentando protegê-las para que não entrem em um espaço de poucos metros demarcado por tubos de metal sempre foi esquisito sob a minha ótica. Quando o Corinthians caiu para a Série B, um dos meus amigos passou mal fisicamente e tempos depois eu chamei aquilo de viadagem.

Todo mundo que me conhece pelo menos um pouco, sabe que eu sou apaixonado por F1. Durante treinos classificatórios e corridas eu sempre grito e xingo conforme a situação se desenrola, mas todas as emoções nunca passaram do momento do lance.

Talvez para mostrar que não estou livre desse tipo de sofrimento, Deus fez com que Felipe Massa, piloto da Ferrari, chegasse à ultima corrida do campeonato com 7 pontos a menos do que Lewis Hamilton, da Mclaren, na disputa pelo campeonato mundial. Para ser campeão, Massa precisava terminar em primeiro e Hamilton em sexto, qualquer posição acima para o piloto da Mclaren, daria o título...

Nos treinos classificatórios. Massa fez a pole position, iria fazer o papel dele e largar na frente. Hamilton largaria em quarto, posição boa pra ele para conquistar o campeonato.

Minutos antes de começar, começa a chover em Interlagos e as equipes correm para trocar os pneus da galera.

Às 15:10 começa a corrida, com algumas trocas de posições e abandonos. Por alguns momentos, Massa é o campeão virtual do mundo (virtual porquê não tinha acabado ainda), Hamilton em sexto. Passo mal a primeira vez.

Hamilton consegue a quinta colocação, que lhe daria o título e a partir desse momento eu achei que estava tudo terminado.....Ficaria feliz com a vitória do Felipe em casa e já era....Mas tiveram as últimas voltas....


Voltou a chover, Massa estava em primeiro, com pneus intermediários, o que significa que somente um erro bobo ou falha de motor o tirariam da corrida. Faltando 3 voltas para o final, Sebastian Vettel começa a atacar Hamilton pela quinta posição. Desde que ele começou que eu vou com a cara desse alemão, e nunca torci tanto por uma ultrapassagem. Vettel passa Hamilton e só precisa ficar uma volta na frente para Massa ganhar o campeonato. Nesse ponto, minhas mãos tremiam e eu estava em pé, segurando na estante da TV, rezando para o Vettel não cagar.

Última volta, meus olhos já cheios de lágrimas vêem o Felipe ultrapassar a linha de chegada, com tema da vitória e tudo. A câmera corta para o Hamilton, que vai na fúria pra cima do Vettel, querendo o título. Grito para o alemão defender a posição e depois do misto do circuito realmente acredito que o título vai para Felipe.

Cerca de 30 segundos depois, a câmera mostra os boxes com a família do Felipe comemorando e eu gritando em frente à TV sem saber o que aconteceu....

Quando olho na classificação na tela, vejo que Hamilton conseguiu ultrapassar Timo Glock, da Toyota, chegando em quinto lugar e garantindo para si o título. Apesar de já saber que era uma coisa com mais de 90% de chances de acontecer, quando vi o Vettel passando, achei que viria um título inédito para o Brasil e que o Hamilton amargaria por mais um ano.... Quando cortou para a câmera no carro do Felipe, vi que ele chorava, e chorei junto....Minha irmã ligou em casa e ficou preocupada, pois eu falava com a voz embargada, simplesmente não acreditava em um final de campeonato como esse...

Claro, Hamilton mereceu e levou, mas como um brasileiro, eu esperava que desse zebra e Massa fosse campeão. O grande problema, foi que até 500m da linha de chegada, Massa era campeão, mas infelizmente os pneus de Glock não aguentavam segurar a posição....

São coisas do automobilismo, mas que é triste, é....

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Apaguei

Apaguei o último post...

Estava criando polêmica demais!

E Deus sabe como eu gosto de tranquilidade...

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Condimentos

Assim como a maioria dos homens de vinte e poucos anos, minhas habilidades na cozinha são praticamente nulas. Quando estou sozinho em casa recorro a pães, hambúrgueres, frios ou o que tiver na geladeira que seja fácil demais de fazer e que não me dê a chance de me matar ou destruir a cozinha da minha casa. Lembro-me do dia em que liguei para a minha irmã e, depois de uma hora de explicações e de anotar um passo-a-passo, finalmente me habilitei a fritar um saco de batatas semi-prontas. Tudo bem que ficaram borrachudas, salgadas demais e encharcadas de óleo. Contudo, a falta de parcimônia com o sal se resolveu com baldes de Coca-Cola e o problema de consistência do alimento (com excesso de combustível vegetal impregnado) acredito que sejam percalços que todo grande Chef enfrenta nos primeiros passos de suas carreiras.
Além de não saber preparar, ainda me destaco por ser um tremendo retardado na hora de comer. Tudo que estiver no meu prato e envolva molhos e condimentos acabará invariavelmente na minha roupa. Quando acontece em casa, tudo bem, só trocar a camiseta e a vida segue, o grande problema é quando acontece na rua. Ontem, depois de tomar algumas cervejas na Vesga, eu e um amigo de redação decidimos comer um X-salada para fazer um fundo no estômago e de lá seguir para o Studio SP, na Augusta.

Chegamos a um Boteco em frente ao Studio, pedimos um X-salada (muito bom por sinal), e como sempre eu enchi as duas metades do sanduíche com Ketchup e mostarda. Depois de terminado o lanche, pedimos mais um X-egg e dividimos. Novamente eu coloquei litros de condimentos. Quando me levantei para ir ao banheiro, notei que minha camisa (até aquele momento azul) estava com respingos em vermelho e amarelo. Já prevendo que teria que passar o resto da noite com aquela camisa, dando pala de gordo retardado, tratei de tentar minimizar o estrago, tendo como ferramentas apenas a torneira do sanitário do boteco e minhas nulas habilidades em remoção de manchas. Uma vez dentro do sanitário, tratei de avaliar o estrago: três manchas pequenas na parte inferior direita da camisa (perto dos botões), duas delas amarelas em pequeno volume e relevo e outra vermelha, um pouco maior e mais densa (tomate é foda). Depois da avaliação, comecei o trabalho de restauração em si. Teoricamente, uma camiseta molhada só depende do advento do tempo para que volte a apresentar o aspecto de limpa depois de seca, ao passo que uma camiseta manchada de Ketchup e mostarda aparentará estar cada vez mais suja à medida que for secando. Isto posto, minha próxima ação era óbvia: Lavar a camiseta. Claro que não poderia lavar a camisa inteira debaixo da torneira, pois não teria como me explicar ao pessoal do bar o porquê de ter saído molhado de dentro do sanitário, além de fornecer uma piada pronta para o meu amigo (que já se divertiu bastante somente com o fato de eu ter me sujado). Desse modo, abri a camisa, estiquei a parte manchada com uma mão, e com a outra mão em concha, armazenei uma pequena quantidade de água, que fui soltando aos poucos sobre a área manchada. Depois de adicionar o solvente universal, segurei as duas pontas da parte manchada e friccionei uma na outra, com a intenção de fazer com que as partículas dos molhos agarradas às fibras da camisa se soltassem. Primeira grande cagada! Além de não tirar a mancha, ainda fiz com que os três respingos se fundissem em um só mosaico amarelo, vermelho e molhado. Depois de xingar a camisa, o X-salada e principalmente minha idéia idiota, voltei à mesa para o jubilo do meu amigo, que ria e me chamava de idiota. Pedimos outra cerveja e eu fiquei olhando para aquela mancha, pensando em algo que poderia ser feito para que ela simplesmente sumisse. Dois copos depois, me ocorreu a grande idéia: friccionar novamente a área manchada, porém não mais a mancha nela mesma, mas contra a minha mão. Segunda grande cagada! Por conta do calor e dos dois lanches, minhas mãos não estavam um exemplo de pureza. Aparentemente limpas a olho nú, elas se encontravam ligeiramente suadas por conta do calor e meio molhadas pelo contato com o copo de cerveja. A união desses fatores fez com que a área manchada ficasse totalmente escurecida. Mais uma vez xinguei a camisa, o X-salada e minha ótima idéia.
Naquele momento, minha fé na remoção da mancha estava totalmente abalada e já conseguia vislumbrar a minha noite de gordo trapalhão, quando uma luz no fim do túnel me salvou:

Meu amigo passou mal com o X-salada e não quis mais entrar no Studio.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

14/10/2008

Nada aconteceu...

... O mundo continua chato pra caralho!

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

CTRL + Z

Na maioria dos programas de computador, o recurso CTRL + Z ( control Z) serve para "desfazer" eventuais cagadas. Reescreveu um parágrafo inteiro e achou que o anterior estava melhor? CTRL + Z; Foi editar uma imagem, mas de repente viu que não ficou como você queria? CTRL + Z, e ela volta a ficar como era antes. Enfim, no cotidiano de quem trabalha com textos, imagens, som, vídeo ou qualquer coisa que envolva edição, é normal usar esse comando várias vezes por dia. O mesmo poderia ser utilizado nas atitudes do dia-a-dia, o que faria de todos nós pessoas mais felizes, principalmente o Bill Gates, que ficaria muito mais rico do que já é. Levando em consideração somente a minha vida, e sem precisar pensar demais, consigo enumerar dezenas de situações onde seria melhor ter dado um CTRL + Z.
A maioria dos dias que chego em casa da balada, muitas vezes entre 6 e 8 da manhã (e bêbado), tenho a estúpida e recorrente ideia de fazer um misto-quente, encher um copo com Coca-cola e assistir qualquer coisa que estiver passando na TV. Como é de se esperar, esse tipo de procedimento quando realizado em um horário em que o barulho vindo da rua é quase nulo, e levando em conta que normalmente posso contar com apenas 10% das minhas habilidades mentais e motoras (sendo otimista), as perspectivas de que uma bosta aconteça são enormes. Apenas para exemplificar: Uma das vezes, minha irmã me contou que comecei a dar broncas na fôrma de gelo, que por muitas vezes caiu da minha mão, fazendo um barulho inacreditável, ao que eu apenas repreendia "Fica quietooo truta, pelamordedeus!!!". Segundo ela, a cena se repetiu pelo menos três vezes antes que eu conseguisse colocar o gelo no copo.
Mesmo quando não derrubo nada, ainda consigo acordar a casa inteira. Como um bom bêbado, normalmente nesses momentos a minha noção de força e delicadeza estão sempre bem prejudicados, o que faz com que eu bata a porta do microondas, da geladeira, derrube panelas no escorredor para pegar um prato que está debaixo de tudo (enquanto só precisaria esticar o braço para o armário) ou abra e bata a porta do forno do fogão para ver se tem algo que sobrou do jantar.
Se para fazer um lanche eu sou um desastre, comendo não me saio melhor, já tendo acordado com a boca suja de molho sem nem lembrar que comi metade de uma travessa de macarrão, ou da vez em que fiz meu lanche, peguei o copo de coca e me sentei no sofá, para acordar no outro dia com a TV ligada e com metade do pão repousando sobre minha barriga.
Esse tipo de evento é sempre causado pelo consumo abusivo do alcool, coisa que dez entre dez pessoas nessa situação enfrentam. O problema é fazer merda sóbrio, coisa que eu também sou campeão. Já perdi as contas de quantas vezes fiz piadas na hora errada e só perceber isso quando todos meus amigos ficaram sem graça. Cansei de dar "Bumbadas na pausa" ( dizer a coisa errada na hora imprópria), como quando uma mina que eu conheci me falou que conhecia o Sarney e eu emendei "Que azar hein? Logo aquele ladrão filho da puta? Está mal de amizades!!!" sem saber que o velho filho da puta era tio dela. Uma vez comentei com a menina da locadora que os donos do lugar deveriam ser mais atentos, pois estavam faltando muitos lançamentos, e a maioria dos filmes eram velhos demais...Para depois descobrir que a locadora era dela e do irmão. Já fiz cartas de amor e mandei, para me arrepender logo depois de apertar "Enviar", procurando em todas as opções do E-mail um modo de fazer com que aquilo não cheguasse. Claro que não deu certo, as mensagens chegaram e eu fiz papel de imbecil, como sempre.
Para não dizer que é coisa do passado, enquanto escrevia esse texto eu disse por msn para uma amiga que o dia que dei em cima dela eu estava bêbado e que normalmente não faria isso. Embora a intenção fosse dizer que a considero como uma grande amiga, e que não teria o ímpeto de agarrá-la do nada, mais uma vez soou errado e eu fiquei com cara de pastel.
Se não dá para por CTRL + Z na realidade, que pensem nisso para as próximas versões do Messenger.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reconstrução histórica

"Prefiro ver uma banda que toque um som de merda, mas próprio, do que alguém que toque bem um cover". Não foi a primeira vez que ouvi essa frase de um amigo, que tratou de repeti-la durante o almoço desta tarde enquanto jogava no celular. Comentários daqui e de lá dos que estavam na cozinha da editora e o assunto logo desandou para o futebol, como invariávelmente acontece. Horas depois, durante o trajeto no metrô e na minha caminhada para a faculdade (tempo que normalmente uso para pensar na vida, esporte que todo pobre adora praticar), fiquei matutando sobre o assunto. Pessoalmente, não vejo mal nenhum em bandas cover e realmente gosto de algumas delas, especialmente as direcionadas a uma banda só, que normalmente fazem um trabalho mais próximo do artista homenageado. Porém, ficou na minha cabeça o sentido que levaria você a montar uma banda com seus amigos e reproduzir o trabalho de alguém que fez sucesso com aquilo, em vez de tentar criar algo novo e diferente, com a sua marca pessoal.
Primeiro pensei em "proximidade", o cara querer reproduzir aquele som para se sentir mais próximo do seu ídolo, de estabelecer uma relação de intimidade através da arte. Depois achei que isso era babaquice demais e mudei a linha de pensamento. Peguemos como exemplo a banda "The Beats", considerada a melhor banda cover de Beatles do mundo: Os caras usam instrumentos da época, se vestem tal qual os rapazes de Liverpool e armam todo um misencene teatral para reproduzir a atmosfera da época da Beatlemania. Tive apenas duas oportunidades de assisti-los, mas por falta de grana não pude ir. Meus amigos assistiram e falaram que é inacreditável, mas enfim, o fato é que são quatro argentinos que abdicaram de suas vidas de músicos independentes e formaram uma banda que tem por objetivo ser exatamente igual a algo que foi um marco de décadas passadas. Nunca entrevistei ninguém da banda e não saberia dizer o motivo disso...E pode ser que nem tenha motivo. Mas é fato que o que me chama a atenção em um show como esse é a reconstrução histórica que ele provem. A menos que compremos uma passagem para os anos 60, será impossível assistir uma apresentação dos Beatles. Podemos nos contentar com o Paul McCartney, único da trupe em atividade, mas não terá a mesma atmosfera de uma apresentação como a do Shea Staduim em 1965, auge do sucesso do grupo. De que forma, além de assistindo uma "cópia teatral" como essa, podemos visitar essa época? Em um cálculo frio, estamos assistindo uma mentira e tentando nos conformar em assistir algo de "segunda mão", por não ter mais acesso ao original. Mas dentro dessa mentirada toda, também não recorremos ao cinema, onde atores vivenciam histórias muitas vezes reais, e mesmo sabendo que é mentira, nos emocionamos? Há quantos anos "Hamlet" continua sendo remontado e encenado pelos teatros no mundo afora, com o astro mandando o mesmo "Ser ou não ser, eis a questão" com um crânio na mão? Talvez o que importe realmente em uma apresentação como essa, não é "quem" está contando a história, mas "qual" história está sendo contada por aqueles quatro rapazes no palco. Nessa mesma idéia, pegamos Mozart, Bethoven, Strauss, Bah e tantos outros compositores da antiguidade que são reproduzidos até hoje. "Tudo bem", responderá você, "mas nenhum deles se veste igual ao Bethoven para tocar". Concordo, mas acho que no caso particular do "The Beats", a encenação é bem vinda, pois a pose de bons moços, os cabelos Mop Top do inicio da carreira e as várias transformações visuais pelas quais os rapazes passaram durante sua saga eram reflexo da mudança ou maior evidenciação das suas personalidades, refletidas principalmente em suas músicas. Basta assistir os vídeos de "Love me Do" e "All you need is love" para se ver que se tratam de duas bandas completamente diferentes, apenas com detalhes marcantes que os tornavam os Beatles, e isso é uma coisa importante para ser destacada, se é do interesse do músico fazer algo próximo do que era originalmente.
Ou isso ou eu bebi demais...

sábado, 27 de setembro de 2008

Olha pra cima!

Quando penso que o mundo está no limite do surreal, algo novo aparece. Em um sábado qualquer no msn ( hoje, claro...), me deparei com uma frase inserida no nome de um amigo, que dizia o seguinte: "pessoal, olhem para o céu dia 14/10/08". Como todo bom curioso, chamei-o para a conversa e perguntei sobre a frase, eis que me vêm a última resposta que eu esperava em um sábado de ressaca: "Nesse dia, uma nave extraterrestre aparecerá no céu". "Nave?", tornei eu, e emendei " Tipo espacial, e tal?", ao que ele me respondeu "É o que diz a lenda". Mesmo sem ter a mínima ideia de que raio de lenda seria essa, que vinha com data e tudo, eu tratei de copiar a frase e inseri-la no meu nome também, afinal, não tinha nada melhor para fazer mesmo. Porém, para meu espanto, muitos dos meus amigos já sabiam da história, embora ninguém a levasse a sério, o quê fez com que eu me sentisse mais imbecil ainda, pois pior do que ser um fanático por OVNIS é ser um pseudo-jornalista desinformado. Por algumas horas esqueci do assunto, assisti o treino da F1, comi um pão com mortadela e tratei de seguir com a minha vida. Na parte da tarde meu computador quebrou ( pela trigésima vez) e eu fiquei apenas com o videogame e uma meia dúzia de cervejas como companhia. Não sei se pelo tédio de uma corrida longa e chata que eu estava disputando no jogo, ou se por efeito da cerveja, mas me voltou à cabeça a maldita nave do dia 14. Comecei a pensar no " já pensou?" e a partir daí começou a brisa...

Dia 14/10, uma terça-feira, eu acordo já tendo esquecido dessa história. 9:00 da manhã eu me levanto, todo mundo em casa ainda dormindo, eu tomo um banho, escovo os dentes, me troco e vou para a cozinha preparar algo para comer. Depois de esquentar o pão no microondas e pegar algo para beber eu me dirijo de volta ao quarto e ligo a TV na Record(único canal que passa "jornalismo" nesse horário), dou a primeira dentada no pão e cuspo de volta, pois o Britto Jr está falando incessantemente sobre um OVNI que desde a uma da manhã do dia 14 está sobrevoando o hemisfério sul, a uma altura em que pode ser visto a olho nú. Começou pelo norte da Austrália, estava passando pelo continente africano e, pelas estimativas, em algumas horas estaria no espaço aéreo brasileiro. Corta para o Vaticano, onde o Papa tenta tranquilizar os fieis, pedindo que confiem em Deus.Corta para o oriente médio, onde milhares de muçulmanos encostam a cabeça no chão e rezam para Allah afastar o mal. Corta para os EUA, onde George W. Bush promete que salvará o mundo. Corta para um repórter em São Paulo, que tenta entrevistar alguém nas ruas, que estão quase vazias. Mudo para a globo e o Willian Bonner está ancorando da Av. Paulista mostrando todas as mesmas imagens que a Record mostrou, mais o depoimento do presidente, que com cara de bobo pede para que o "povo basileiro" não entre em pânico e que medidas necessárias serão tomadas para garantir a proteção do país. Em seguida aparecem depoimentos dos altos escalões das forças armadas, que dizem que farão o possível para conter qualquer eventual ameaça à soberania do Brasil. Corta para as imagens das agências internacionais, que mostram ao vivo a nave cruzando o céu de da Namibia, escoltada a uma distância segura por caças F-22 dos EUA ( que às 4 da manhã - horário de brasilia - haviam investido contra o alvo, com resultado ineficaz). Os americanos, inclusive, já trataram de posicionar todos os porta-aviões da região para qualquer eventual contra-manobra. Alheia a tudo isso, a nave continua seu passeio, ignorando as tentativas de contato feitas pelos caças e inibindo qualquer tentativa de abatimento. Esqueço do meu trabalho, ninguém deve ter ido mesmo, passo manteiga em outro pão, coloco no microondas e ouço que minha irmã e meu sobrinho acabaram de se levantar, comento com ela o quê está acontecendo e vamos os dois para a frente da TV, meu sobrinho vai assistir os "Padrinhos Mágicos". Continuo na Globo e descubro que o mundo parou. Todos os países, inclusive o Brasil, estão em estado de emergência até a segunda ordem, comércio fechado e rodizio suspenso. Nesse momento, a nave já alcança o oceano atlântico, em direção ao Brasil. Caso siga o mesmo padrão, deverá alcançar São Paulo em aproximadamente oito horas. Continuo ligado. Ligo o computador e começo a discutir a novidade com os amigos que também estão on line. Talvez por conta da falta de pessoal trabalhando, a internet está incrivelmente lenta e caindo toda hora. Desisto. Minha tia acorda e vai fazer café, quando vê eu e minha irmã prostrados em frente à TV ela pergunta o quê aconteceu, contamos, e ela também fica assistindo. Como em todas as casas do planeta, começamos o debate do que os supostos ETs podem querer com essa exibição. Várias conjecturas depois, não chegamos à conclusão nenhuma, assim como todas as outras pessoas do mundo. Com a nave sobre o oceano atlântico, sem novidades, mas por vir em direção ao espaço aéreo brasileiro, o presidente marca outro pronunciamento para o meio-dia, no qual diz que não só o Brasil, mas todos os paises, estão envolvidos em proteger o planeta, e que haverá uma conferência na ONU para se chegar a uma solução sobre o que deverá ser feito. Às duas da tarde como outro pão, dessa vez com mortadela, e tomo uma coca, pois minha tia não saiu da frente da TV e não fez almoço. Meu sobrinho brinca com seus carrinhos e vez ou outra aparece para tentar chamar para si, a atenção que todos tem com a TV, que nesse momento mostra em plano aberto o OVNI sobre o oceano atlântico junto a cinco caças ostentando a bandeira norte-americana, todos voando em velocidade de cruzeiro. A programação da TV não muda de assunto, revezando imagens ao vivo do objeto com matérias especiais produzidas às pressas, entrevistando ufólogos e cientistas, e relembrando antigas evidências de supostas aparições alienígenas em solo terrestre, desde Roswell em 1947, até Varginha em 1996, nada que está nos arquivos das emissoras sobre o assunto é deixado de lado. Teses e mais teses são apresentadas e confrontadas, grandes especialistas e donos de boteco são consultados com o mesmo crédito, com o Bonner tentando manter a organização em frente ao caos. Seis e pouco o OVNI chega ao litoral paulista e avança em direção a São Paulo, em minha direção, inclusive. Assim como todos da minha casa, cidade ou provavelmente estado e pais, eu começo a me borrar, com medo de dar a louca nos Ets e eles decidirem que querem destruir tudo, justamente quando estiverem sobre o meu prédio. Seis e cinco e estão sobre o trecho da serra do mar, chegando à capital. Olhos atentos sobre a TV, procuro antecipar os próximos locais por onde o OVNI passará, quando finalmente me dou conta que meu senso de localização é péssimo e que eu não faço ideia de onde fica a serra. Segundo os informes, o objeto passará pela zona sul, norte e deixará a zona metropolitana. Não tenho carro, não tenho como ver ao vivo, então melhor esquecer e continuar na TV. Enquanto a nave avança pelo solo brasileiro, Bonner informa um comunicado do Lula, que informa que a ONU decidiu não tentar mais nenhuma ofensiva ao objeto, a menos que este demonstre hostilidade, e que o Ministério da Aeronáutica deixou um esquadrão de super-tucanos de prontidão para qualquer eventual revide. Seis quinze e nada acontece, o objeto sai do espaço aéreo paulista e segue em direção ao Paraguai, provavelmente intentando dar a volta ao mundo. Oito da noite, o que era novidade já se torna rotina. Nave, caças, presidente, especialistas, tese, tudo se misturando minuto a minuto, na grade improvisada da TV Globo. Me dou conta de que estou há mais de 10 horas em frente à TV. Como nada de novo acontece, minha tia vai preparar algo rápido para o jantar, volta e meia colocando a cabeça para fora da cozinha para saber o andamento da situação. Às 11 da noite vou jantar e a nave já está saindo do Chile, em direção ao oceano pacífico e à Australia. Brinco com a minha irmã que apesar do estardalhaço, provavelmente eles são burros, pois não sabem que a terra é redonda. Duas da manhã eu vou dormir, totalmente cansado de ouvir falar de ETs e imaginando se teria que trabalhar no outro dia....

E enttão, a corrida que eu disputava no videogame acabou...

terça-feira, 9 de setembro de 2008

O momento Irônico

Todo mundo um dia vai morrer, essa é a única certeza que se tem sobre a vida. Porém, a dúvida que permanece é: E aí? Bom, e aí ninguem sabe, e quem diz que sabe, por enquanto mente, embora possa estar perto de descobrir. Dependendo do grupo onde uma pessoa está inserida, existe uma resposta para essa pergunta aterrorizante, pois todos os credos se esforçam para acalmar seus fieis quanto a essa questão fundamental e filosófica que todos um dia fazem ou farão, pois se a ciência se ocupa religiosamente em tentar explicar de onde viemos, que a religião se ocupe de explicar para onde vamos, cagando potes para a ciência. Imaginemos que você seja um sujeito cético, ou melhor, ateu, que acredita que o fim da vida é simplesmente o fim....um eterno breu, onde não acontece nada...E de repente, chega o seu último suspiro...Imaginemos!

Você de repente acorda e aquele não era o último suspiro, bom para você né? mas está em um tribunal e pensa "Merda, minha tia católica estava certa". Logo que acordou, mais ou menos como no alto da compadecida, eles te julgam por todos os males que você fez para o mundo, usando os atos bondosos como atenuantes da sua pena, que pode ser de anos de purgatório com paraíso por bom comportamento, ou perpétua no inferno, pois o reino de Deus não é Brasil, é país de primeiro mundo; Fez, tem que pagar!

Outra alternativa...

Você de repente não acorda, mas aquele não era o último suspiro, pois você continuará dormindo até o quê as evangélicas que iam na sua porta de domingo diziam se tratar do "Juízo Final", ou o dia em que todos os mortos em sono profundo se levantam, se juntam aos vivos e são julgados como no caso anterior, só que sem purgatório e atenuantes ou "bom comportamento", pois o reino de Deus não é de primeiro mundo, é a China; Fez, eles te executam, não fez? Bom, tente provar...


Outra alternativa...

Você de repente acorda e aquele não era o último suspiro, mas o primeiro latido, pois reencarnou como um cachorro, descobrindo por fim que os budistas estavam certos e que a vida agora é muito melhor, cobrando de você apenas que paquere cachorrinhas, morda o carteiro e que agradeça aos céus por não ter nascido na Coréia, senão seria o almoço...

Outra alternativa...

Você de repente acorda e aquele não era o último suspiro, mas continua igualzinho ao que era, e pior, ao lado do seu ex-corpo, assistindo a cena. Não sabe para onde vai, o quê fazer e aquela maldita luz que te prometeram no filme do Ghost teima em não aparecer. Para piorar, ninguém te vê e os que te vêem saem correndo, pois todo mundo tem medo de alma penada, o quê fazer? Sei lá, tente prender seu assassino...Caso seja morte natural, sente e espere a luz, uma hora ela vem...


Ou a alternativa derradeira...

Você não acorda, morreu mesmo e não existe mais nada! Parabéns, você passou a vida acreditando em algo que era verdade... Mas não faz diferença, você não existe para comemorar...

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Metropolitano

Se andar de ônibus é um terror para os cidadãos de São Paulo, é por falta de andar de Metrô. Atualmente, a cidade conta com cerca de 60km de trilhos cruzando a cidade de ponta a ponta. Obviamente é muito menos do que cidades de primeiro mundo como por exemplo Londres (415km), Nova Iorque (368km), Madri (317km), ou qualquer uma das 37 outras – algumas com menor extensão territorial que a nossa - , segundo dados entregues pelas próprias empresas de “metropolitanos”. Por outro lado, é um tamanho respeitável se levarmos em consideração que em Israel existem apenas 1,8km de linhas, algo como da minha casa até a locadora, adicionando a isso que o perigo de que ter um carro bomba na minha vizinhança é quase nulo (quase, porque vivo na zona leste), São Paulo está muito bem de Metrô, obrigado! Ao todo as linhas se dividem em 4 linhas, a 1 a 2 a 3 e a 5 (?), sim, batizaram a quarta de cinco, em algum método heterodoxo de batismo utilizado pelos engenheiros. Não só o batismo foi heterodoxo, a construção da quarta linha “cinco” também foi; instalada do “Largo 13” ao “Capão Redondo”, sem interligação com nenhuma outra, vive vazia, indo e voltando do fim do mundo a lugar nenhum. Para facilitar a vida da “peãozada” que as utiliza, cada linha foi nomeada com uma cor, respectivamente “Azul”, “Vermelha”, “Verde” e “Lilás”, um sistema de cores alegres, diferente do humor daqueles que são obrigados a usá-las. Dessas quatro, as piores são a “Azul” e “Vermelha”, que cobrem de norte a sul e leste a oeste, respectivamente; e entre essas duas, a vermelha é de longe a pior, e a que obviamente eu pego todos os dias. No horário de saída do trabalho e entrada de escolas e universidades, conhecida como “hora do rush” o caos se desenrola diariamente e ninguém que dependa desse meio de transporte deixa de sentir as conseqüências. Saindo nesse horário do Ipiranga (Zona Sul) para se chegar ao Tatuapé (Zona Leste), um trecho que pode ser percorrido em cerca de 30 minutos de carro, um sujeito normal levará cerca de 1 hora e 30 minutos usando esse magnífico sistema de transporte. Imaginando você que nunca tenha usado esse sistema e tendo como ponto de partida é a estação Imigrantes, linha Verde. De lá, você deverá seguir no sentido Vila Madalena por duas estações até a “Ana Rosa”. Até esse ponto, o sujeito se sentirá em um transporte de primeiro mundo, com estações bonitas e vagões com lugares disponíveis para se sentar. Ao descer na Ana Rosa, primeiro susto. Amontoados, todos que desceram do mesmo trem que você tentam subir uma escada, que por sua vez também é o caminho de outros que tentam descer, pois as duas direções da linha verde ficam no mesmo “andar”. Nesse ponto, você ficará assustado, mas não se preocupe, procure alguém mais “largo” que você e posicione-se logo atrás, na posição de “vácuo”, de modo que o rapaz abra caminho entre os passantes e te deixe em uma situação ligeiramente confortável. Depois de subir um lance, virar à esquerda e descer outro, lembrando de se manter atrás do rapaz corpulento, você deverá pegar a linha da esquerda – sentido Tucuruvi -, isto é, entrar na fila que leva a ela, composta de mais ou menos 10 pessoas, todas com a mesma pressa que você. Algumas delas não têm noção de espaço e acreditam piamente ser possível passar cinco pessoas paralelamente por um espaço menor que dois metros, o que significa que você será espremido entre outras 4 ou entre elas e a porta, recomendo a primeira opção, carne é mais macio do que aço. Depois de entrar, você terá cerca de 4segundos e meio para se acomodar, antes que o acomodem tacitamente. Sugiro que corra para o corredor, parte onde você terá mais ou menos 1 palmo de distância entre uma pessoa à sua frente, uma às suas costas e duas outras, cada uma de um lado, o que te possibilitará pelo menos levantar ou abaixar o braço quando achar necessário. Daí em diante será só relaxar, você terá cinco estações para percorrer. Na quarta – Liberdade -, comece o processo de saída, se posicionando para uma saída em linha reta pela porta esquerda. Deixe de fora da sua trajetória pessoas com grandes bagagens ou pessoas com 70 anos ou mais, que possam ser eventualmente mais lentos do que a maioria, terminando atropeladas pela turba furiosa. Posicionado e pronto, você ouvirá o sinal que serve como o levantar da arma do juiz nas provas de natação; que dará inicio ao momento de grande suspense antes do clímax:”Próxima estação: Sé, desembarque pelo lado esquerdo do trem”. Quando ouvir essa frase, normalmente dita em tom de tédio pelos auto-falantes, se prepare, pois será exigida uma grande agilidade e audácia da sua parte. A hora que o trem parar, conte até dois e saia andando de lado, tal qual um caranguejo, de modo a diminuir o seu “arrasto corporal” (a menos que você tenha uma barriga muito proeminente, se tiver, vá arrastando mesmo), até atingir a porta, onde novamente será esmagado junto a outros quatro passageiros. Nesse momento, o que importa é sair, pois em poucos segundos o sinal tocará e se ficar para dentro, terá que pegar o trem de volta, repetindo todo o processo. Uma vez fora do trem, siga em direção à escada que leva ao sentido “Corinthians-Itaquera”, se não encontrar indicação, simplesmente siga a massa, pois cerca de 80% do contingente que sair do mesmo trem que você seguirá para esse destino, o que significa que desde o pé da escada que o levará para a plataforma, todos os caminhos estarão entupidos de gente, use a mesma tática do metrô Ana-Rosa, se posicione atrás de alguém mais roliço que você e poupe-se do terrível trabalho de ter que abrir caminho. Ao chegar à plataforma, não se assuste, tenha em mente que é um dia comum e que aquelas milhares de pessoas não irão te esmagar, pelo menos não de propósito, e encaminhe-se para qualquer um dos locais que dão acesso aos vagões. Devido à grande quantidade de usuários se espremendo, uma das grandes invenções do sistema paulistano de metrô é a cerca que percorre um caminho em “S”, da plataforma à porta do vagão, feita em aço inoxidável, de modo a “guiar” melhor, como os peões fazem com as vacas na fazenda. O intervalo de tempo que levará entre adentrar nesse “caminho” e efetivamente entrar no vagão, levará mais ou menos o intervalo de 3 trens, ou coisa de 10 minutos, onde mais uma vez você será espremido por todos os lados contra outras pessoas ou contra os canos de aço do “caminho”, a escolha é sua. Se tiver sorte, a pessoa que estiver à sua frente será a ultima a se espremer em um vagão, o que o deixará na ponta da fila para o próximo trem. Embora os funcionários do metrô te aconselhem, você perceberá que é impossível esperar antes da linha amarela e que se alguém atrás de você na fila espirrar, você será atropelado por uns 20 vagões a 80km/h, mas tente manter a calma. Quando o trem vier, não fique olhando para frente, pois a velocidade com que ele passa poderá te dar vertigem, então olhe para cima ou para a cara de espanto da pessoa ao lado; se ela olhar, ensaie um sorriso do tipo “Que merda hein?”, que provavelmente ela corresponderá. Pessoas juntas nesse tipo de situação tendem a ser amistosas. Quando finalmente ele parar, novamente conte até dois para as portas abrirem e corra em direção ao corredor como se o próprio Satanás estivesse em seu encalço, e não as outras pessoas da fila, crias dele. Se atingir o corredor, ótimo, parabéns. Se não, segure-se em alguma das barras de ferro para evitar que você seja jogado pela porta aberta do outro lado e assim que começar a se estabilizar em algum lugar levante os braços e aguarde já com eles na posição correta, pois uma vez que a porta fechar, não será possível move-los e você precisará se segurar no teto para não cair. Quando o trem sair, esqueça o calor, esqueça o senhor de regata suando com os braços levantados e esqueça da mulher ao seu lado com um perfume francês adquirido na 25 de março, só não se esqueça de novamente se segurar em algo quando chegar ao Brás, pois grande parte das pessoas do vagão precisarão descer nessa estação para pegar o trem, e não medirão esforços para isso. Apenas o sinal sonoro do metro avisando que as portas se fecharão será sua redenção. Quando esse momento chegar, o vagão esvaziará o suficiente para você parar de maldizer a sua vida e curtir o resto da viagem até o tatuapé...

Onde você ainda terá que pegar um ônibus...

sábado, 9 de agosto de 2008

Problemas

Célia gostava de Carlos e queria compromisso, mas Carlos tinha um problema: Via defeito em todas as mulheres com quem se relacionava, defeitos que para muitos não era problema, mas que para ele tornava impossível a convivência. Alta demais, baixa demais, nariz de batata, gorda, magrela, dente encavalado, seis dedos, monocelha.....enfim, tudo era motivo suficiente para desatar qualquer laço mais íntimo, nenhuma das pretendentes parecia estar a altura das suas exigências. Até a marcinha, a menina mais cobiçada do bairro, ele dispensou. "Ela tinha os pés enormes", se defendia, quando criticado pelos amigos. Com a Célia tudo foi pelo mesmo caminho, desde o dia em que se conheceram no bar, apresentados pela Sônia, amiga dele de trabalho e dela de faculdade, que eles começaram a se ver regularmente e um mês depois, Carlos já começava a esfriar os ânimos. Não atendia o telefone, não mandava mais recados carinhosos e sempre saía pela tangente das investidas da garota, àquela altura apaixonada pelo mancebo. Até a Sônia, que não era de se meter, chegou a ligar para ele para perguntar o quê estava acontecendo, pois achava a Célia uma excelente pessoa, bonita, divertida e com intenções sinceras de namorá-lo. Não adiantou, Carlos estava irredutível, desde o dia em que viu aquela mancha nas costas da garota que não conseguia pensar em outra coisa. Tudo bem que ela tinha um dos sorrisos mais bonitos que ele já vira e que sabia de bate-pronto dizer quais eram os cinco primeiros colocados no brasileirão, mas a pinta estragava tudo. Nem era tão grande, coisa de quatro dedos, mas ainda assim era uma imperfeição, algo que ele simplesmente não conseguiria deixar pra lá. Os dias passaram, Célia desistiu e Carlos voltou à sua vida cotidiana, de baladas e relacionamentos sem futuro, até que ele conheceu Ana. Linda, rosto de miss, corpo de bailarina. Inteligentíssima, estudava Fisioterapia e trabalhava como voluntária em uma ONG, enfim, a mulher que ele sempre procurou finalmente apareceu. Se conheceram na faculdade, durante uma cervejada organizada pelo curso dela, onde ele tinha uma prima, amiga dela. Desde aquele dia, foi paixão instantânea e finalmente ele via uma luz no fim do túnel. Teria encontrado sua alma gêmea? Não saberia responder, mas queria acreditar que sim, afinal, nunca sentira nada daquilo por ninguém. Começaram a sair e os dois pareciam feitos um para o outro, gostavam de MPB, filmes com o Al Pacino, sorvete de pistache e Milk Shake de Ovomaltine do Bob´s. Carlos estava radiante, jamais pensara que um dia se apaixonaria tão loucamente por alguém, já fazia mais um mês que se viam todos os fins de semana e ele queria pedi-la em namoro. Mal via a hora de mostrar para os amigos que existia sim alguém perfeito e que ele havia achado e se apaixonado por ela, queria mostrar principalmente ao marquinhos, que espalhava pelo bairro o boato de que ele era gay.Naquele sábado ele a levaria para tomar um chopp e ouvir um samba na Vila, comeriam picanha e ele pediria a ela que fosse sua namorada. Sábado logo cedo ele ligou no celular da Ana e deu caixa postal, ligou na casa dela e a mãe disse que ela tinha saído. Carlos tentou ainda passar na casa dela a noite, levou flores e uma cópia do CD do Chico Buarque que ela tinha pedido, mas foi em vão, não conseguiu encontrá-la em lugar nenhum...

É que Ana tinha um problema...

domingo, 3 de agosto de 2008

FRÁVIOOOOOOOOOO!!!

FRÁVIOOOOOOOOOO!!! Vinha o grito lá do quintal. Sábado, 12:00, talvez mais cedo, eu levantava ainda zonzo de sono e corria escada abaixo em direção ao chamado. Ao chegar no quintal encontrava meu pai de bermuda, sem camisa, esfregando o chão com uma vassoura e uma caixa de sabão em pó, e xingando a Dolly, nossa cadelinha Cocker Spaniel que insistia a correr atrás da água que era atirada para limpar o piso de ardósia. "Cadela do inferno, pensa que é um pato", dizia ele. Realmente era a única dos 5 cachorros que nutria essa paixão pela água, os outros dois ficavam sempre o mais longe possível da mangueira. Quando eu chegava ao encontro dessa cena, já sabia que tudo que eu havia planejado para o dia - jogar videogame e assistir TV - iria ter que ficar para depois, a menos que eu conseguisse escapar. Quando me via, o velho falava " Vai, troca a água dos cachorros, põe comida para os papagaios e vêm jogando água enquanto eu esfrego!". Emburrado eu o seguia, tirando com a água o sabão do quintal. De vez em quando a água da mangueira respingava e eu ouvia " Fidum´aputa!!!!", mas não podia rir, senão azedava de vez. Durante todo o trajeto do quintal eu ouvia reclamações e xingamentos, vezes por não tirar o sabão direito, vezes pelo mal humor característico do meu pai. Chegado o fim do quintal, era a vez dos cachorros tomarem banho, e sobrava pra mim a tarefa de segurá-los enquanto ele pegava o sabão de côco para ensaboá-los. Se eles se mexessem demais ou respingasse muita água, eu era xingado, "SEGURA ELE DIREITO CARAIO". Depois de todos os animais de banho tomado, o quê algumas vezes também incluia o "mequetrefe" (nosso gato vira-lata que tomava banho a força no tanque, gritando e arranhando meu pai, que amaldiçoava até a quinta geração da familia do coitado do bichano), era hora do veio começar a lavar o carro. Minha função nesse momento era somente abrir e fechar a mangueira quando ele mandasse, com a rapidez que ele exigia. Sentado na escada, quando eu via que ele ia demorar até pedir minha ajuda novamente, pois o carro era grande e ele ensaboava com calma e cuidado, eu sorrateiramente subia ao meu quarto e começava uma partida, até que, cinco minutos depois o quarteirão inteiro ouvisse " FRÁVIOOOOOOOOOO MOLEQUE FIDUM´APUTAAAAA, JÁ SUBIU É?" Quando ouvia essa frase eu corria novamente, passava voando pela cozinha, onde minha mãe preparava o almoço e ria, se divertindo com a cena. Quando chegava no carro ele já estava azedo e reclamando sozinho " VOCÊ E SUA IRMÃ, VOU TE CONTAR. PARECE AQUELE DINOSSAURO REX, TUDO BRACINHO CURTO, NÃO TEM CORAGEM DE TIRAR A BUNDA DO SOFÁ.... AS CRIAÇÕES TODAS PATINANDO NA MERDA E VOCÊS LÁ, DE CUZÃO PRA CIMA. VAI, VAI LIMPANDO AS RODAS DO CARRO." e lá ia eu, lavar roda por roda, e bem limpas, para não ouvir ainda mais. Depois do carro devidamente lavado, era minha obrigação pegar todos os produtos utilizados no serviço, passar uma água e guardar, coisa que eu fazia tudo de qualquer jeito, afinal, minha mãe com certeza iria arrumar tudo depois, e me mandava para o meu quarto. Nem meia hora depois "FRÁVIOOOOOOOOOO", eu corria de novo e ele estava arrumando a tomada da cozinha, com a caixa de ferramentas do lado, virava e me falava "pega aí uma chave de fenda pro pai". Me perguntando porquê ele mesmo não tinha pegado, já que estava com a caixa de ferramentas do lado dele, eu procurava, entregava e me virava para voltar ao quarto quando ouvia "owww, onde você vai? vem dar uma mão pro pai" e me pedia outra ferramenta. Caso essa ferramenta não estivesse na caixa, ele me falava onde ela estaria e caso eu não achasse, ouvia outra frase clássica "Se eu achar posso bater com ela na sua cabeça?". Ele achava, mas não batia! Contrariado eu ficava olhando ele trocar os "espelhinhos" dos interruptores, até que chegasse um que faltasse um parafuso e eu ouvisse a temida frase "Pega aquela lata de parafuso pro pai?". a Lata de parafusos era uma antiga lata de tinta de mais ou menos 30cm de altura e 15cm de largura onde eram guardados centenas de parafusos e porcas e de todos os tamanhos possíveis. O motivo para eu temer a lata era simples: assim que a entregava, todo o conteúdo era espalhado no chão por ele, que escolhia uma das peças e me falava "Agora junta aí pro pai". Cada vez que ele espalhava aqueles parafusos, eu passava pelo menos 15 minutos para recolher tudo e guardar de volta na lata, tempo mais do que suficiente para ele achar outro "espelhinho" faltando um parafuso e esparramar a lata inteira no chão novamente. Essa sequência se repetia às vezes 3, 4 vezes por sessão, me deixando à beira da exaustão mental, até ser salvo pela minha mãe, anunciando a hora do almoço. Depois de comer eu finalmente conseguia correr para o quarto para ter momentos de paz para jogar videogame, até ouvir...

"FRÁVIOOOOOOOO". Faltava trocar os espelhinhos dos interruptores dos quartos, e um deles faltava um parafuso...

terça-feira, 15 de julho de 2008

Fantasmas



São 19:00 de um sábado e toda a população da sua casa está espalhada pelo mundão, uns viajando, outros passando a noite na casa de parentes e você, por um azar do destino, está sozinho em casa. Nenhum dos seus amigos quer sair para a balada, você está com preguiça de sair para comprar cerveja e tudo que lhe resta são alguns filmes alugados para assistir. Você pede uma pizza, come, assiste um filme, fica no msn por algumas horas, assiste outro filme, come mais pizza e de repente já são 1 da manhã e o sono começa a bater. Sua irmã não está em casa, não há motivo para dormir na sua cama de solteiro, então você pega seu edredom e os dois travesseiros e se encaminha para a cama de casal do quarto dela. Nesse momento começa o terror...

Não há nada pior do que ser medroso. Almas penadas, ETs e toda sorte de coisas do outro mundo podem habitar sua casa quando as luzes se apagam e você se encontra sozinho tentando dormir. Morar em prédio torna as coisas ainda piores, pois o som produzido pelos moradores de catorze andares acima do seu reverberam na sua casa como se a todo momento alguém estivesse mijando no seu banheiro, tomando água na sua cozinha ou andando no seu corredor. É assustador!

2 da manhã e seu sono ainda não veio, seus vizinhos parecem se divertir com a sua desgraça e andam de um lado para o outro. Você repete para si mesmo “São os vizinhos, são os vizinhos!!!”, mas na sua cabeça, toda a população de fantasmas da necrópole de São Paulo resolveu visitar sua casa e dar uma festa, apenas para te atazanar o saco. Você tenta desviar o pensamento para coisas diferentes, liga a TV e está passando um filme de ação ridículo, que não serve nem para dar sono. Apenas para abafar a trilha sonora macabra do seu apartamento, você deixa a TV ligada, coloca um dos travesseiros sobre a sua cabeça e tenta pegar no sono a força. Não dá certo. São 4 da manhã, você já levantou pelo menos oito vezes para mijar e se certificar de que a porta da frente está trancada, de que não há monstros na casa e de que a luz do banheiro está acesa, afinal, espíritos têm medo de claridade e a luz do banheiro age como uma barreira mística que os impede de chegar ao quarto. A maioria das redes de TV já encerrou suas atividades e as que não encerraram estão com uma programação que não vale a energia gasta para o aparelho funcionar, o que te encoraja a desligar a TV e enfrentar a situação como um homem, rezando 2 pai-nossos, se enrolando totalmente no edredom e deixando a cabeça debaixo dos dois travesseiros. Incrivelmente, talvez pela reza, talvez pelo casulo formado pelo edredom mais os travesseiros, ou pela somatória de tudo isso, o sono finalmente veio mais ou menos às 6 da manhã, mas foi interrompido novamente às 8:30, pois a TV da minha irmã ligou novamente. Segundo ela, o aparelho tem timer...

Pelo sim, pelo não, você reza de novo!

domingo, 29 de junho de 2008

Amigdalite x produtividade

Contradizendo o que escrevi dois posts abaixo, não levou tanto tempo quanto eu imaginava mudar o visual do blog. Trancafiado em casa, de molho desde as 19:00 de sexta-feira por conta da minha velha amiga amiga amigdalite, tive tempo de sobra para me preocupar com esse hobby. Além de mudar o visual ( como espero que tenham percebido), atualizei também meus sites e blogs favoritos ( como naquele momento não me ocorreram muitos, voltarei a atualizar assim que possível). Pensei também em colocar uma barra de vídeos, deixar o espaço multimídia, mas cheguei à conclusão que sairiam do foco, o que me fez desistir. Continuará apenas com textos mesmo, com uma ou outra foto meramente ilustrativa. Falando em texto, tive tempo ainda de publicar um post, que se encontra abaixo desse, se trata de uma carta que escrevi para compor um livro que seria publicado junto a diversos outros "escritores amadores"...é, com aspas mesmo, se chamaria "Cartas que nunca enviei" ou algo assim. Como não havia acertado nada ainda com quem estava organizando e recolhendo material para a publicação, havia parado esse texto na metade, mas como gozava de tempo sobrando esses dias e já tinha assistido todos os DVDs que tenho na minha coleção, resolvi terminá-lo. Se trata obviamente de uma carta e foi um texto que eu particularmente gostei muito de escrever, apesar de nunca achar que meus textos estão bons o suficiente. Baixa auto-estima literária, se é que isso existe...

Enfim, espero que gostem

sábado, 28 de junho de 2008

Meninas, mulheres...

Seu rosto de menina com olhares de mulher ainda não deixaram minha retina. Sua voz quase sussurada, em respostas monosilábicas e tímidas, ainda reverbera no fundo do meu timpano, mas não se preocupe, tudo isso irá embora um dia...

Não lembro quando te conheci e isso não importa. Lembro-me apenas como foi e sei que você também não deve ter esquecido. É, naquele tempo não eramos nada demais; eu era só mais um, e você mais uma dentre todos que nos rodeavam. Lembro que tomávamos vinho, sem gelo, lembro do seu perfume suave; lembro também do dia que te levei ao cinema, e do remorso que senti por não ter beijado sua boca na nossa despedida, com medo estar errado, enquanto você parecia querer acertar. Me lembro também que depois disso nos afastamos. O tempo passou, eu mudei, você mudou.

Algum tempo depois nos vimos quase de relance em uma festa, você de camiseta, calça jeans e tênis e eu usando qualquer coisa, você sorriu, eu sorri de volta. Naquele dia você estava com ele; com um aperto de mão e prazer em conhecê-lo, me despedi e segui em direção ao bar, não mais ao banheiro. Percebi nesse momento que o sumiço tinha nome, mas que eu não me lembrava qual era. Coloquei uma pedra no assunto e no seu nome, conheci outros lugares, bebidas, pessoas. Eu mudei; você teria mudado? Me esforçava para não me perguntar, mas nunca me esforcei o suficiente para nada.

Por um esbarro do destino, nos esbarramos pela internet e tudo aquilo voltou, aquilo em mim, que talvez não existia em você. Você com ele e eu comigo, provavelmente como deveria ser. Porém, ao ir contra esse presságio, que me dizia que o jogo estava perdido mesmo antes do juiz apitar o começo, eu me senti mais vivo, meio tentado e um pouco desafiado, e por isso me esforcei para não ouvir minha cabeça e deixar que meu coração puxasse as grossas correntes que me levavam até você. Por um tempo valeu a pena, afinal, mesmo de longe eu parecia estar ganhando, ignorava como um cavalheiro a existência de um adversário, mesmo que ele estivesse a bons passos na minha frente e já com seu coração na mão. Me concentrava apenas em fazê-la sorrir; tarefa fácil, pois a beleza do seu sorriso sempre esteve no fato de você não negá-lo em momento algum, mesmo quando a piada era com você, que me chamava de "bobo", mas sorria gostoso.

Quanto tempo isso durou? não sei...Semanas? Dias? Horas? Importa? Não sei a resposta para nenhuma delas, aliás, você sempre soube que tenho mais perguntas que respostas, embora nem sempre elas sejam feitas quando e como deveriam. Só o que sei responder é que foi bom, embora somente platônico e binário, que sempre que o computador apitava eu esperava com frio na barriga que fosse o nome estrelado. Depois disso, você sumiu, mas reapareceu, dizendo ter tido problemas no computador e insistindo para nos vermos, eu aceitei e marcamos. No dia marcado, a hora custou a chegar e meu expediente durou, dentro da minha cabeça, pelo menos dezoito, das oito horas normais. No horário marcado, eu estava lá, você não. Longos 20 minutos depois, ouvi dizer que o atraso tinha nome, aquele que eu não me lembrava, e fui para casa. Costumamos nos sentir idiotas quando pensamos que algo nunca aconteceria, e acontece; neste caso, eu sabia que poderia acontecer, mas me senti idiota do mesmo jeito. As bebidas que íamos tomar juntos, tomei sozinho, e segui para a minha casa, ouvindo Beatles no MP3 e tentando entender como garotos espertos como eu caem no conto do vigário tão facilmente. Não consegui me responder, mas sentia que não era certo...

E o quê era certo afinal? desde o começo, o errado era eu, de já começar a corrida depois de várias voltas do adversário. Eu queria um título que não poderia ter, porquê dessa vez você que provavelmente teve medo de estar errada, quando eu decidi acertar....

No outro dia você apareceu e mandou uma longa mensagem, pedindo mil desculpas e dizendo que também não esperava, eu sorri por fora, para meu monitor, mas não sorri para você, apenas respondi que não tinha problema e nós voltamos a nos falar quase normalmente. Até você sumir novamente.

Já não importava se o sumiço tinha nome, importava que tivesse sentido, e para você, provavelmente teve, pois não respondeu à mensagem que eu te enviei depois de algumas horas de cervejas com amigos, de beijar outra garota e perceber que era você que eu queria encostar na parede, e que eram seus olhos que eu queria ver, quando os meus se abrissem.

Já faz um tempo desde esse dia. De lá para cá eu mudei, mas não me pergunto mais se você mudou, porquê já não faz diferença. Não sei se você errou por ter medo de errar, ou acertou quando não quis me deixar acertar, mas isso também não importa.Há alguns dias o computador apitou e seu nome surgiu, com estrela e tudo, mas o frio na barriga não, e dessa vez não sorri apenas para o monitor, sorri para mim e para a minha vida, que não tem tudo e nem você, mas tem um pouco de todo o resto.

Um dia nos esbarraremos novamente, talvez em uma festa, talvez em um bar ou em um casamento, que pode ser o seu, que pode ser amanhã. Quando esse dia chegar, as impressões que tenho de você serão apenas uma vaga, gostosa e sofrida lembrança. Nesse dia, perceberemos que eu é que estava errado e que você acertou, e que a espera e a calma fazem tudo ir embora;

Até meninas e mulheres.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

Cansei

Antes do próximo post pretendo mexer no layout. Anda muito verde e muito chato de se ver. Levando em consideração minha inaptidão para qualquer trabalho desse tipo, por mais simples que possa ser, pode ser que demore um pouco. Meus planos são para o fim da semana...vamos ver...

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Decisões

Tem momentos que são decisivos, onde somos compelidos a agir sem tempo para pensar. Nesse tipo de situação a única opção é escolher uma das disponíveis e ir em frente, quase como chegar a um entroncamento na estrada estando a 140km/h: esquerda, direita ou guard-rail, escolha! Àqueles que dizem que o homem quando age por instinto ativa uma espécie de “sexto sentido” que aponta instantaneamente a saída certa, eu, em verdade, vos digo que estão errados. Geralmente, quando é necessário que façamos uma escolha por instinto, fazemos a errada, ou menos acertada, dependendo das conseqüências. Mas tudo bem, ninguém é obrigado a pensar rápido agir e acertar 100%. O problema é ter tempo para pensar, planejar a ação, executar... e fazer merda. Grande problema para os outros, para mim é rotina.

Em um domingo cedo qualquer, desidratado pela ressaca e sem um centavo no bolso para tomar uma água, a pior decisão que poderia ter tomado era a de passar no shopping para sacar alguns trocados. Foi a que tomei. O horário era entre 10 e 11 da manhã, não mais, o estabelecimento meio vazio, apenas alguns vendedores sonolentos se recostavam às portas das lojas, esperando algum eventual cliente madrugador. Subi os três lances de escadas rolantes em direção ao caixa eletrônico, tirei o dinheiro e peguei o caminho de volta, parando ocasionalmente para olhar alguma coisa que me chamasse a atenção em uma das centenas de vitrines. Dois lances abaixo depois, e fazendo a volta para a terceira descida, tive o meu caminho cortado por uma senhora que levava uma criança no braço direito e carregava uma pamonha na mão esquerda, se encaminhando na mesma direção que a minha. Mesmo abalado pelo sono e pela ressaca que já começava a trazer sua dor de cabeça característica, eu consegui antever que algo daria errado. Ao pisar na escada rolante, a velha senhora desequilibrou, desequilibrou a criança e a pamonha balançou, mas se mantiveram os três no degrau, 100% verticais. Dois degraus acima estava eu, e durante o percurso de descida percebi que a saída daquela escada seria bem menos suave do que a entrada. Sentindo a mesma responsabilidade que abateria o Homem-Aranha ou o Superman, mas com a ausência dos superpoderes e com os movimentos mais lentos do que os de um ser humano normal por conta da rebordosa, eu não me deu conta de que não conseguiria salvar os três, como fariam facilmente qualquer um desses heróis. Logo, teria que escolher entre a velha senhora, a criança ou a pamonha. Salvar só a pamonha deixaria a cena parecendo um roubo em área rural, onde o meliante atropela a velhinha, rouba a pamonha e corre para o mato, a fim de se deliciar com os espólios da ação, e definitivamente aquela não era a minha intenção. Faltava pouco para terminar a descida e eu ainda não tinha me decidido entre salvar a senhora ou a criança, embora soubesse que a decisão deveria ser tomada de qualquer forma. Se abster não era uma opção. Antes que os últimos gomos de metal da escada rolante adentrassem abaixo do piso eu me decidi: salvaria a criança, afinal, a velha já tinha vivido bastante e provavelmente agüentaria melhor o “knock down”. Com isso em mente, era somente aguardar. Quando a senhora pisou para fora da escada, tudo que eu imaginei aconteceu: O pé esquerdo usado para sair na escada rolante, o peso da criança no braço direito e a mão esquerda inutilizada por segurar a pamonha foram os principais agentes de desequilíbrio, que se combinaram à falta de força da anciã em uma perna só e a gravidade, que não tira folga nem aos domingos de manhã, para levar os dois ao chão. Só não foram os dois por conta da minha intervenção rápida e enérgica , que puxei a criança no ultimo segundo, dei um salto e aterrissei em uma área segura, um metro a frente a tempo de ouvir a velha senhora e a pamonha se chocarem contra o piso laminado do centro de compras. Sentindo-me um herói, com a criança chorando em meu braço como um troféu pelo salvamento, esperei pelas congratulações. Alguns dos passantes pararam e ajudaram levantar a senhora, que limpou na blusa os restos esmagados do doce de milho e veio na minha direção para reaver o rebento e, na minha cabeça, me agradecer por pensar rápido e salvá-lo de alguma severa escoriação. Ao contrário do que minha cabeça me dizia, a senhora me olhou feio, assim como todos que a rodeavam, tomou a criança de meus braços com truculência e saiu pisando duro e praguejando, provavelmente contra mim e por ter perdido a pamonha.

Sem saber se agi certo ou errado, ou o que outra pessoa faria em meu lugar eu saí e fui atrás de uma garrafa d´agua, afinal, a ressaca já estava pegando forte...

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Na porta ou na parede...

A paixão pela leitura não respeita lugar. Para quem gosta desse tipo de exercício intelectual, tanto faz se está deitado no sofá de casa, em pé no metrô ou sentado na privada. No último caso principalmente, pois desvia a atenção do esforço demandado para o perfeito cumprimento do dever fisiológico. Por vezes, além de se distrair, na falta de material feito especificamente para leitura, pode-se aumentar exponencialmente seu conhecimento de mundo ao descobrir, por exemplo, quais são os ativos químicos contidos na sua pasta de dente. Outra hipótese, é a de expandir os conhecimentos de quem usa o mesmo sanitário que você, revelando seus pensamentos, críticas ao sistema, aquela veia poética que só sua avó conhecia e o melhor: anonimamente. Claro que emporcalhar o banheiro da sua própria casa seria burrice e seus pais provavelmente o fariam limpar, mas em banheiro público não há problema, pois além de transformar em um ambiente mais intimista, contribui com a diversão de terceiros, que assim como você, não tiveram tempo de chegar em casa e foram obrigados a agüentarem o cheiro azedo e o assento nada higiênico por forças maiores da natureza. Nesse tipo de redação em especial, a criatividade é indispensável. O tema não importa, o necessário é que mexa com o inconsciente e o emocional daquele, que ali sentado, faz força para botar pra fora o que precisa. Desde que seja público, o local não importa, embora haja diferenças básicas, exemplifico:

Em um banheiro de faculdade, próximo às salas de comunicação social: "O tsunami na Ásia na verdade foi uma bomba atômica no Pacífico... Desconfie das notícias!”;

De engenharia: "a diferença entre cagar e dar o cú é meramente vetorial"

De filosofia: “Se eu pudesse fazer o que eu não posso fazer,como eu saberia o que fazer?”;

E naquele do cursinho, para aqueles que ainda sonham com o curso superior e se preocupam com o resultado do vestibular: "Enquanto você está cagando, tem um japonês estudando”.

Saindo do campo estudantil, existem os banheiros de bar, forrados por anúncios de pessoas buscando parceiros amorosos ou sexuais, lançando pensamentos sobre a vida (“A Verdadeira felicidade consiste em chegar a tempo neste local”), clamores amorosos, ainda que endereçados para aquela pessoa que nunca terá a oportunidade de ler (“Karina, te amo!!!!”, Retirado de um banheiro masculino). Alguns simplesmente expõem a sua situação (“Estou bêbado”), voltam a afirmar na semana seguinte, ao lado da citação anterior (“Mais um dia Bêbado”) e, quando muda o dono do bar e a parede é pintada, vêm uma terceira citação, se reafirmando e lançando um desafio ao novo proprietário do estabelecimento (“Muda o dono, pinta a parede e eu continuo bêbado”). Alguns chegam inclusive a discutir ao longo da parede, começando por uma reprimenda àqueles que ali escrevem: “Não rabisque a porta, mostre a sua cultura”. Nesse ponto, algum desses a quem a mensagem se dirigia, bebeu um pouco além e se revoltou com a bronca. Por coincidência ou não, tinha uma caneta no bolso e mandou a deselegante réplica: “Perdi a cultura quando comi sua mãe”. Atacado em seus brios, o autor da primeira mensagem treplicou: “Então me chupe e a recupere!”. Nesse ponto a parede chegou ao fim e a briga não pode ter continuidade, para tristeza dos leitores, que tentavam imaginar qual seria a próxima investida do bêbado revoltado.

Por se tratar de ambientes geralmente pequenos, saber trabalhar com pouco espaço é fundamental. Trabalhar no tamanho da fonte e usar cor escura (no mínimo azul escura), para que fique legível por todos que estejam sentados. Alguns aproveitam e brincam com o espaço, por vezes fazendo o leitor de bobo, escrevendo na porta “olhe para a esquerda”; no lado esquerdo: “Olhe para o outro lado” e finalmente na direita: “olhe para o outro lado novamente e sinta-se em Rolland Garros!”. É óbvio que o público do banheiro do bar é o mesmo que freqüenta suas mesas e dependendo do local, o público é mais ou menos culto, em alguns casos, bilíngües e poetas ao mesmo tempo:

"El que viene a cagar
Y de hacer versos se acuerda
No se lo pudes negar
Es un POETA DE MIERDA."

E outros, como eu faço agora, apenas se despedem...

“Boa cagada que eu já vou indo...”

segunda-feira, 26 de maio de 2008

Passeio no Centro...

Para se conhecer a verdadeira São Paulo é importante passar um dia no centro histórico. Todo o emaranhado de prédios, mendigos, prostitutas e engravatados é, sem dúvida, uma das grandes fotografias da cidade. Todo o anel central que se estende da Liberdade à Luz e da República ao Parque D. Pedro é palco de cenas esquisitas, atores inesperados e histórias engraçadas.

Apesar de todo a agitação dos dias úteis, uma ótima maneira para se aproveitar o centro da cidade é ir até lá no fim de semana, em um sábado na hora do almoço, por exemplo. É divertido escolher a esmo um dos botecos e se sentar com amigos para tomar uma cerveja e ver o dia passar. Na minha última visita, eu e dois amigos escolhemos um bar de esquina, ao lado da Praça João Mendes, esquina com a Av. Liberdade e atrás da Catedral da Sé. A localização era ótima, o trio “Calor, Original e calabresa”, além das ímpares personalidades que me acompanhavam, eram fatores que anunciavam uma ótima tarde pela frente. Como de praxe, escolher a mesa onde passaríamos as próximas horas era uma decisão importante, pois precisa atender a três princípios básicos: Visão privilegiada de quem passa pela rua e de quem entra, proximidade do banheiro e boa visibilidade do garçom. Caso o bar possua mesas na parte externa, a distancia do banheiro pode ser sacrificada pelo privilégio de estar ao ar livre e ter visão panorâmica do que acontece ao redor. Nesse dia e bar em particular, nós fizemos essa opção, tomando o vento que vinha da Av. liberdade e seguia para a Sé, com visão para as “Belas da tarde”, prostitutas que trabalham encostadas nas floriculturas da praça ao lado da João Mendes e que receberam esse nome em uma ótima matéria da Folha de S. Paulo. Acomodados, chamamos o garçom e pedimos o inventário do bar, “Original” e “Bohemia” geladas, “Brahma” e “Skol” mais ou menos, ficamos com a “Original”, pedimos alguns lanches para fazer o fundo e deixamos os trabalhos iniciarem, era 12:30. Meia hora depois estávamos na terceira gelada, o garçom já havia recolhido os restos de guardanapo e potes de Catchup, mostarda e maionese que restaram sobre a mesa após a rodada de lanches. Lembranças de épocas passadas, comentários sobre amigos em comum e sobre os transeuntes que por ali passavam eram assuntos que se revezavam no script da conversa da mesa, recheado por comentários maldosos e risadas mais altas que o normal, propiciadas pelo aditivo de cevada fermentada. Até aquele momento, ignorávamos as prostitutas que se encontravam a alguns metros de distancia, se empenhando na captação de clientela. Porém, uma vez que o assunto começou a diminuir e o número de garrafas na mesa a aumentar, descobrimos que olhar e comentar sobre as “belas”, que de belas tinham pouco, e sobre seus possíveis clientes era um esporte interessante e ia bem com a porção de fritas que acabávamos de pedir. 10 minutos depois, chega o Alemão com a porção, uma Original e, percebendo os rumos da nossa conversa, passa a radiografia de todas as moças do local, com detalhes como preço, tempo de programa, média de clientes/dia, detalhes dos serviços prestados, locais utilizados para os programas, esquema de segurança com policiais. Enfim, um verdadeiro conhecedor do comercio que se desenrola em frente ao seu bar diariamente. Afim de verificar se a informação relativa ao tempo de programa que o Alemão contou ( única informação possível a nós validar, uma vez que não queríamos nos levantar da mesa), passamos a cronometrar o tempo gasto entre a garota sair acompanhada e voltar sozinha, deduzíamos o tempo que levava para chegar ao hotel e demais protocolos e chegávamos a uma estimativa do tempo da “ação” propriamente dita e chegamos à conclusão de que o garçom sabia do que falava, o que nos levou a desconfiar que ele seja um cliente regular, mas decidimos não perguntar.

Outra grande diversão era imaginar quais clientes efetivamente procuravam pelos serviços, quais apenas especulavam e quais eram tímidos, pois passavam duas ou três vezes pelo local antes de fazer qualquer pergunta. Depois de horas de observação e análise, nos tornamos “experts” em reconhecer cada tipo que abordava e conseguíamos inclusive dizer quem iria “arrastar” ou não, o que levou a um novo jogo: Sempre quando uma “bela” era abordada, começávamos em coro “Vai arrastar, vai arrastar”, se o cara não levasse, havia um coro em protesto “Ahhhhhhhhhhhhh!”, se levasse, gritávamos todos na mesa e dois caras da mesa ao lado, que também gostaram do exercício: “AEEEEEEEEEEEEEEE” e todos brindavam com seus copos. Algum tempo e 15 cervejas depois, as moças perceberam nosso jogo, e sorriam para nossas graças talvez enxergando em nossas mentes turvas por litros de Original, clientes em potencial, o que nós correspondíamos com mais graças e acenos de convite para integrarem a mesa, que elas educadamente ignoravam.

6 horas e 21 cervejas ( a “caidera” foi por conta da casa) depois, fechamos nossa conta, cumprimentamos os novos amigos que já não lembrávamos o nome, prometemos ao Alemão que voltaríamos em breve e saímos passeando pelo centro, afinal, a noite estava apenas começando...

Republicado

Revisitando antigos textos, achei o endereço de um outro blog que eu mantinha antes desse. A maioria dos textos que lá estão eu não gosto e por isso vou omitir o endereço, mas tem um que eu gostei muito de escrever, mas pouquíssimas pessoas puderam ler, pois na época eu não costumava divulgar o espaço. Portanto, para quem ainda não leu, pra quem leu e gostou, ou quem apenas procura um motivo para não trabalhar, republiquei no post abaixo desse.

Ótima semana a todos!

Ps. Durante essa semana quero publicar outro texto que escrevi, mas preciso de uma autorização especial...então tenho que aguardar....rs

Ônibus!

Ônibus são sempre ambientes curiosos. Um lugar onde se espreme 50 ou mais pessoas estranhas, às vezes por um grande período de tempo, é quase uma aula de sociologia. É divertido observar. E de graça.Começa o show quando o ônibus para em seu ponto de partida e os passageiros começam a entrar. Não existe uma formula matemática de como é feita a distribuição das pessoas pelos bancos, mas é mais ou menos assim: Conforme vão entrando, as pessoas vão ocupam em primeiro lugar a parte traseira do coletivo e os bancos mais próximos da porta de trás, o que eu chamo de “distribuição estratégica”, uma vez que inconscientemente as pessoas estão ocupando os lugares onde o acesso à saída ficará mais fácil e cômodo mesmo depois dos corredores estarem entupidos. Essa mentalidade se aplica apenas aos 10 primeiros passageiros, pois daí pra frente, os bancos próximos às portas já estarão ocupados por uma pessoa cada um e, seguindo o que eu chamo de “ regra da distância”, as pessoas naturalmente ocuparão os outros bancos vazios, mesmo os mais distantes da saída, antes de se sentarem ao lado de um estranho. Essa é uma atitude bem típica e compreensível, afinal, como você se sentiria se fosse o primeiro a entrar em um ônibus e a próxima pessoa a entrar se sentasse ao seu lado, mesmo com todos os outros bancos vazios? Desconfortável? Eu também. Mas não se preocupe, isso provavelmente nunca acontecerá. Então vamos em frente.Talvez o maior dilema que eu enfrente ao andar de ônibus, diz respeito a ceder o meu lugar, às vezes conquistado à custa de muita espera em uma fila imensa. Idosos e pessoas com crianças de colo e deficientes não entram nesse dilema, pois é lei, então não há o que discutir. Só respeitar. E parar de fingir que está dormindo, que isso é muito feio. O dilema a que me refiro, diz respeito ao cavalheirismo do qual todos os homens são pressionados a representar. Mais especificamente: Eu entrei, sentei, e ao meu lado, em pé, pára uma moça cheia de sacolas, salto alto e cara de sofrimento que faria um até um nazista ficar com pena. Qual a atitude correta? Levanto e deixo ela se sentar? Seguro as sacolas? Finjo que estou dormindo? Geralmente escolho a segunda opção, seguro as sacolas. Até hoje nunca levantei. Ficaria um clima estranho, mesmo se ela aceitasse. Não vou dar uma de hipócrita também e dizer que nunca fiz a terceira. Mas aconteceu porquê me ofereci para segurar as sacolas de uma moça e não vi que ela estava com uma amiga, também com uma mochila. Porém, no meu colo já se encontrava a minha mochila e a da outra moça, de modo que uma a mais comprometeria minha capacidade de me segurar dos solavancos. Então tomei uma atitude simples: Virei a cabeça em direção ao vidro abri um pouco a boca e até encenei alguns roncos. Antes um dorminhoco do que um mal-educado.Existem também aqueles que são simpáticos e puxam conversa com os companheiros de viagem. Geralmente não me sinto a vontade com essas pessoas, mas não é regra. Normalmente, se chego a fazer algum comentário com a pessoa do lado, é sempre em respeito ao trânsito, à chuva ou alguma eventual cagada do motorista. não sai disso. Semana passada aconteceu uma cena curiosa: Voltando para casa da faculdade, por volta das 23:30, meio cansado e meio molhado, eu vinha tentando dormir na tocada tranqüila do coletivo. Tentando porquê ao meu lado vinha uma moça que tentava marcar uma consulta em algum hospital pelo celular, que volta e meia ficava com o sinal fraco, e para se entender com a recepcionista do outro lado, ela falava meio alto. Paciência. Porém, em um determinado momento, a perua fez uma manobra meio esquisita e quase bateu de frente com um ônibus que vinha em sentido contrário. Eu nem percebi, estava sonolento demais, mas a moça ao meu lado surtou. Desligou o celular, olhou pra minha cara e falou “ Você viu o que ele fez?” eu respondi que não e tentei demonstrar que queria dormir, mas ela estava possuída por alguma espécie de espírito tagarela, ou tendo uma overdose de adrenalina e não me permitiu esnobá-la: Apontou pra fora da perua e falou em um tom meio alto para o horário: “ FOI NAQUELA DELEGACIA QUE TIREI MEU RG”. Eu não sabia se tinha entendido bem o comentário e muito menos o que responder, mas tentei demonstrar que aquele era um comentário tão rotineiro quanto um “será que chove?” e respondi com uma cara neutra: “o meu foi no poupa-tempo”. Grande... Grande erro. Por causa dessa resposta, talvez mais fora de hora do que a pergunta, fui obrigado a ficar o restante da minha viagem conversando sobre documentos e sobre como os tempos mudaram a esse respeito, com até algum tipo de nostalgia. É em dias como esse que percebo como a simplicidade cultural do brasileiro parece não ter limites para surpreender, como somos capazes de falar muito sobre nada e sobre como em situações como essa, parecem não existir barreiras entre as pessoas. Mas no meu caso, sinceramente, depois de uma viagem como essa, eu geralmente me pergunto:Cade meu carro?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Nomes....

Nomes são apelidos da alma, ou os apelidos são os nomes da alma? Não sei onde ou quando li isso, provavelmente em alguma crônica de Veríssimo ou Prata, e nem qual é a frase correta, mas é fato que certos apelidos dizem mais sobre a pessoa do que seus nomes, do mesmo modo que alguns nomes parecem apelidos. Hoje não falarei sobre apelidos, porquê eles sempre dizem tudo o que querem dizer, sem precisar perguntar. O “Cabeção”, o “Magrelo” e o “Cabelo”, por exemplo, são personagens recorrentes em quase todas as turmas de bar, camping ou quadras de futebol society e suas descrições físicas são tão óbvias que não necessitam de comentários. O fato a que me atenho ao escrever, são de nomes que parecem ser criados para um determinado tipo de estereotipo principalmente na época de infância, na turma de escola, exemplifico: Ana Paula, menininha desengonçada, cabelos cacheados e presos na parte de trás da cabeça com uma “piranha”, olhos grandes, normalmente não tomava partido em turminhas da escola; não era da turma do canto, nem do fundo, nem da frente. Sentava-se no meio, zona apenas de circulação de pessoal que vai do fundo pra frente, de um lado pro outro ou vice-versa. Provavelmente junto com a Márcia, gordinha, ri de tudo, mas se espanta quando alguém percebe. Marcelo é aquele cara gente boa, te chamava pra ir jogar bolinha de gude na calçada, só andava com uma bermuda preta, meio desbotada e tinha uma mãe de voz estridente, que saia na janela e gritava “ Máááá, vem almoçarrrrrr”, fazendo até a menina que estava pulando corda com as amigas do outro lado da rua perder o ritmo e ser chicoteada pela corda de varal nas pernas.

De todos esses nomes, porém, doi são grandes esteriótipos. Um deles é Maria Luiza. Talvez os pais recebam uma iluminação divina quando pensam no nome da futura menininha e só coloquem esse nome nas predestinadas a serem estudiosas. São aquelas que sentam despudoradamente à frente da sala, tem óculos de aros grossos e marcas de expressão permanentes na testa de tanto resolver teoremas e decifrar contos machadianos. O último e mais esteriótipo de todos é Flávio, sujeito bonito, semelhança surpreendente com antigos galãs do cinema. Inteligente, é capaz de traçar um paralelo entre a obra de Van Gogh e a música dos Racionais. Simpático, consegue conversar sobre futebol com seu pai enquanto ensina à sua mãe uma receita de bolinho que só sua avó sabia e que até aquele momento aparentemente tinha se perdido na mudança que seus avós fizeram de Minas para São Paulo. É amigo de todo mundo e só não faz mais sucesso porquê não assobia e chupa cana ao mesmo tempo, por não gostar de cana.

Não concorda? Então esqueça tudo que eu disse...

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Mais cultura!

Sei que há algum tempo não posto nesse blog, mas sinceramente ando sem tempo para pensar em novos temas e menos tempo ainda para sentar e escrever alguma coisa. Dias atrás, porém, conversando com uma amiga, eu cheguei à conclusão de que não conheço nada do roteiro cultural da cidade onde moro, a famigerada São Paulo. De tudo que essa cidade oferece em termos de museus, exposições, cinema e música, conheço apenas um roteiro simples de bares e baladas, o que significa que estou muito mais propenso a terminar o sábado bêbado do que com alguma bagagem cultural a mais. Contudo, esse quadro está prestes a se modificar: Me comprometi, a partir da próxima semana, a conhecer todas as atrações culturais e históricas de SP, como o MASP, o MAM, o Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca e muitos outros que até hoje só havia passado perto e me envergonho de não conhecer, principalmente por ser um estudante de comunicação.

Pois bem, tirando esse fim de semana, que pretendo viajar, a partir do próximo vou procurar um desses locais para conhecer e talvez até tirar algumas fotos...quem quiser me acompanhar, só falar!

E quem sabe não terminamos o sábado em um bar?

quarta-feira, 26 de março de 2008

Coração de jornalista



Costumo dizer que a profissão de uma pessoa diz muito sobre a sua personalidade. Salvo em alguns casos, o comportamento que uma pessoa tem em horário comercial sempre se reflete na vida pessoal. Tudo bem que nem todos os médicos são saudáveis, personal trainers magros ou padres pedófilos, mas sempre gostei de generalizar as coisas e dessa vez não farei diferente.

Embora ainda não seja um jornalista de diploma, e nem conheça muitos que sejam, convivo com dezenas de pessoas que enxergam nessa profissão um caminho para seu futuro e outras dezenas que já desistiram de ver algum futuro, mas não sabem fazer nada além de escrever e beber quase todos os dias, então persistem. O grande problema dessa profissão decorre exatamente de um dos seus objetivos primários: ser objetivo.

Quando estudantes de jornalismo, somos impelidos a ser sempre objetivos, afinal, nunca teremos o espaço que gostaríamos para escrever ( Quer dizer, a menos que seja um espaço como esse, onde ninguém nos paga) de modo que temos que aprender a escrever menos, mas com a mesma quantidade de informação, que é o que nossos professores costumam chamar de “objetividade”. “Vá direto ao ponto e pare de historinha” costumam dizer. Para isso existem obviamente regras pragmáticas que possibilitam esse “enxugue”, e que não vale a pena serem explicadas aqui, a menos que você queira aprender jornalismo, coisa que eu duvido e que sua mãe não aprovaria. O grande problema é quando o uso dessas técnicas desenvolvidas no ambiente acadêmico são usadas no cotidiano, o que é inevitável, e nos pegamos agindo como jornalistas, ao invés de pessoas normais. Alguns desses “tiques” não costumam gerar ruídos em relações interpessoais, pelo menos não na maioria das vezes, pois as vezes eu sinto que posso ser meio indiscreto demais, mesmo com pessoas desconhecidas.

Eu _Ah, seu namorado terminou com você? Como aconteceu?

Uma amiga _Ah, eu vi ele com outra menina... (com olhos tristes)

Eu _ Mas ele estava fazendo o que?

Ela_Estava conversando com ela...

Eu _Mas então não pode ser que eles fossem apenas amigos?

Ela _Não...

Eu _Mas porquê?

Ela _Porque não ( já meio irritada)

Eu _Então não estavam só conversando

Ela _ Não, ele tava beijando ela, entendeu? ( já com cara de “Se toca”)

Eu _ Ahhh....
Muito depois percebo que no momento eu fui meio inconveniente, mas obtive a informação inteira, ou pelo menos um lado dela. Ainda tenho o freio de não ligar para o rapaz e pedir a versão dele, como manda o bom jornalismo, e acho que por isso ainda tenho alguns amigos.

Com relação à objetividade, porém, grandes problemas podem ser gerados, principalmente no que se diz respeito no trato às mulheres. Não que jornalista seja indelicado, bruto ou algo do tipo. Pelo contrário! A maioria deles são geralmente educados, inteligentes e articulados. Porém, são objetivos. Está afim? Que bom! Não está? Ótimo! Sem drama, sem historinhas, como deve ser.

Hoje de manhã tive um grande exemplo de possíveis problemas com o uso da objetividade. Um colega de redação, que tinha sido convidado para viajar com uma menina, mas não estava com vontade. Afim de decidir rapidamente a questão, uma vez que tinha prometido pensar havia duas semanas e ainda não respondera, decidiu usar o E-mail para findar com o compromisso. Impessoal? Sim, meio frio? Com ressalvas, uma vez que um E-mail bem escrito tem a mesma eficácia das antigas cartas de amor, mesmo com a ausência da espera pelo carteiro, figura romântica de intermediação. Nesse caso, contudo, não foi bem assim.

Na faculdade, aprendemos como uma das regras de objetividade, o sistema de “Lead”, onde todos as informações principais estão inseridas no primeiro parágrafo, para dar mais agilidade à leitura. Claramente o sistema destoa completamente do tom de uma carta pessoal, endereçada a alguém a que se tenha algum interesse amoroso ou qualquer coisa relacionada. Mas sem isso ou talvez nada na cabeça, ele o fez. E fez com o que meu professor costuma chamar de “Lead trovão”, Curto e grosso!

“Fulana de tal”, não vou!

Cinco palavras e um ponto de exclamação. Claro, isso foi só pra começar, tiveram mais dois parágrafos de documentação, o primeiro dizendo o porque de não ir e o segundo fazendo projeções para o futuro, no caso dele, otimistas demais. 1500 caracteres e estava desmarcado. Só faltou a foto pra manchete.

Sempre exaltam que o que importa é seguir o coração. Meu professor sempre diz que devemos ter o jornalismo coração, e pelo visto o dele também.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Salada




Sou contra o conceito de salada. Do meu ponto de vista, comer algo que tem o mesmo cheiro e textura dos capins que crescem nos terrenos baldios não é só estranho, mas antinatural. Tirando a Ema, que tem o cérebro menor do que o olho e outros animais retardados pela sua natureza, toda a teia alimentar é definida quando o assunto é a refeição; uns são herbívoros, outros carnívoros e ponto final. Experimente jogar sangue na água do mar e, ao ver o tubarão se aproximar, jogue uma bacia de alface com tomate. Não só ele não vai comer como desconfio que pulará em cima do barco para te pegar,pela afronta. Em outro extremo, ofereça um pedaço de bife ou uma costela no bafo a uma girafa. Claro que a reação da pescoçuda de boa índole será muito mais branda que a do tubarão, mas com certeza ela negará (Em caso de se perguntar o porquê de eu ter usado uma girafa como exemplo, lembre-se que se usasse uma vaca eu ainda estaria cometendo o crime de oferecer a costela de um parente à coitada.). Tendo isso em mente, não consigo entender como a espécie humana pode acreditar que precise comer de tudo para ter saúde. Não que eu ache que as pessoas devam escolher entre ser herbívoros ou carnívoros, muito pelo contrário; pra mim, a resposta é óbvia: Somos carnívoros predadores. Nascemos para comer carne e nossa inteligência pode nos trazê-la sem maiores complicações. Há milhares de anos que não precisamos caçar e o mais perto que chegamos da luta pelo alimento é a briga pelas coxas do frango assado no almoço com a família. Porém, nossa fisiologia continua quase a mesma e temos as mesmas necessidades. Nossos dentes são feitos para cortar carne, nosso estômago não consegue processar saladas e o cheiro de coisa doce ou gordurosa é respondido pelo nosso corpo com saraivadas de saliva. Uma herança bizarra e cruel? Pode ser, mas não nos cabe discutir nosso legado, apenas aceitá-lo. Apesar dessas evidências, vivemos na era da conscientização; na geração saúde, onde um prato de cupim é deixado de lado por algumas berinjelas. Nutricionistas, médicos e todo um rol de pessoas estudadas e inteligentes dizem todos os dias que devemos sim comer salada para, talvez, vivermos mais. Comigo não é diferente, tenho uma irmã médica e em todas as refeições que fazemos juntos sou compelido amigável e simpaticamente a comer algumas folhas de alface e rodelas de tomate. De vez em quando não faz mal, reconheço, mas quando estou sozinho sempre passo longe da parte verde do almoço. Quer dizer, quase sempre, pois se tem uma coisa que odeio mais do que salada, é deixar de comer alguma coisa que veio junto com o prato que eu paguei; me sinto fazendo desfeita e com isso eu não consigo conviver.

Tenho grandes problemas para arrumar lugares para almoçar. Quando se trata da hora do almoço no serviço então, nem se fala. No meu primeiro emprego já cheguei a ficar toda a minha hora de almoço rodando pelas ruas ao redor do prédio, colocando defeitos em todos os lugares e voltar pra trabalhar com fome. Já passei inclusive cerca de três meses comendo somente no Mcdonald´s por não saber aonde ir. Hoje em dia não é mais assim e quase não existem critérios para escolha do local para o almoço, mas confesso que ainda tenho algumas manias.

Alguns dias atrás me sentei à mesa de uma padaria, pedi o cardápio e escolhi o filé a parmegianna. Por ser a minha primeira refeição no local, considerei esse prato um bom ponto de referencia no que diz respeito à qualidade da comida, pois de Filé à Parmegianna eu me gabo de entender. Contudo, uma pergunta feita pela garçonete me fez vacilar: “ O senhor quer qual salada?” Temendo ser ridicularizado pela garçonete por não conhecer os tipos de salada fiz a pergunta que me pareceu mais natural “ Quais as opções?” Eram duas: Alface, tomate e cenoura e a outra de maionese com ervilha, cenoura e um monte de outras coisas. Escolhi a primeira. Cerca de dois minutos após ela me deixar, voltou com meu refrigerante, um pratinho com a dita salada e uma cestinha com um pão francês. Contente com a agilidade do serviço eu enchi meu copo de refrigerante e esperei pela segunda parte do almoço, que conteria meu filé. Para meu desespero, ele demoraria algum tempo para ficar pronto e naquele instante eu me vi sozinho com aquela salada e pãozinho. Afim de não parecer um doido que fica olhando para a comida e não faz nada, eu peguei meu garfo, espetei uma folha de alface e meti na boca... Surpresa! estava com gosto de papel, mais do que de costume, o que me deu a idéia de que talvez estivesse destemperada, coisa que eu não tinha a mais vaga idéia de como fazer. Perguntar para a garçonete estava fora de opção, sob pena de ser tratado como um retardado pelo resto do almoço. O que me restou, enfim, foi analisar o que tinha na mesa e usar de acordo com meu bom gosto. Encostados no canto havia um saleiro, um paliteiro e duas garrafinhas: azeite e vinagre. Sem saber qual deles era usado para temperar, decidi usar um pouco de cada e rezei a Deus para não ter uma diarréia. Peguei o pãozinho, cortei metade, abri no meio, coloquei uma folha de alface, uma rodela de tomate, coloquei azeite, vinagre e sal e dei uma mordida. Nem de longe foi a coisa mais gostosa que eu já comi, mas já não tinha gosto de papel e descia razoavelmente bem. Terminado o pão, as últimas folhas e pedaços de tomate com cenoura desceram somente com um aumento substancial na dose dos temperos e empurradas com goladas vigorosas de coca-cola gelada. Não consigo confessar como fiquei feliz quando vi a bandeja terminada, embora tenha terminado com a garrafinha de refrigerante inteira para tirar o excesso de sal da minha boca.

E nesse momento chegou o Filé!