quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Reconstrução histórica

"Prefiro ver uma banda que toque um som de merda, mas próprio, do que alguém que toque bem um cover". Não foi a primeira vez que ouvi essa frase de um amigo, que tratou de repeti-la durante o almoço desta tarde enquanto jogava no celular. Comentários daqui e de lá dos que estavam na cozinha da editora e o assunto logo desandou para o futebol, como invariávelmente acontece. Horas depois, durante o trajeto no metrô e na minha caminhada para a faculdade (tempo que normalmente uso para pensar na vida, esporte que todo pobre adora praticar), fiquei matutando sobre o assunto. Pessoalmente, não vejo mal nenhum em bandas cover e realmente gosto de algumas delas, especialmente as direcionadas a uma banda só, que normalmente fazem um trabalho mais próximo do artista homenageado. Porém, ficou na minha cabeça o sentido que levaria você a montar uma banda com seus amigos e reproduzir o trabalho de alguém que fez sucesso com aquilo, em vez de tentar criar algo novo e diferente, com a sua marca pessoal.
Primeiro pensei em "proximidade", o cara querer reproduzir aquele som para se sentir mais próximo do seu ídolo, de estabelecer uma relação de intimidade através da arte. Depois achei que isso era babaquice demais e mudei a linha de pensamento. Peguemos como exemplo a banda "The Beats", considerada a melhor banda cover de Beatles do mundo: Os caras usam instrumentos da época, se vestem tal qual os rapazes de Liverpool e armam todo um misencene teatral para reproduzir a atmosfera da época da Beatlemania. Tive apenas duas oportunidades de assisti-los, mas por falta de grana não pude ir. Meus amigos assistiram e falaram que é inacreditável, mas enfim, o fato é que são quatro argentinos que abdicaram de suas vidas de músicos independentes e formaram uma banda que tem por objetivo ser exatamente igual a algo que foi um marco de décadas passadas. Nunca entrevistei ninguém da banda e não saberia dizer o motivo disso...E pode ser que nem tenha motivo. Mas é fato que o que me chama a atenção em um show como esse é a reconstrução histórica que ele provem. A menos que compremos uma passagem para os anos 60, será impossível assistir uma apresentação dos Beatles. Podemos nos contentar com o Paul McCartney, único da trupe em atividade, mas não terá a mesma atmosfera de uma apresentação como a do Shea Staduim em 1965, auge do sucesso do grupo. De que forma, além de assistindo uma "cópia teatral" como essa, podemos visitar essa época? Em um cálculo frio, estamos assistindo uma mentira e tentando nos conformar em assistir algo de "segunda mão", por não ter mais acesso ao original. Mas dentro dessa mentirada toda, também não recorremos ao cinema, onde atores vivenciam histórias muitas vezes reais, e mesmo sabendo que é mentira, nos emocionamos? Há quantos anos "Hamlet" continua sendo remontado e encenado pelos teatros no mundo afora, com o astro mandando o mesmo "Ser ou não ser, eis a questão" com um crânio na mão? Talvez o que importe realmente em uma apresentação como essa, não é "quem" está contando a história, mas "qual" história está sendo contada por aqueles quatro rapazes no palco. Nessa mesma idéia, pegamos Mozart, Bethoven, Strauss, Bah e tantos outros compositores da antiguidade que são reproduzidos até hoje. "Tudo bem", responderá você, "mas nenhum deles se veste igual ao Bethoven para tocar". Concordo, mas acho que no caso particular do "The Beats", a encenação é bem vinda, pois a pose de bons moços, os cabelos Mop Top do inicio da carreira e as várias transformações visuais pelas quais os rapazes passaram durante sua saga eram reflexo da mudança ou maior evidenciação das suas personalidades, refletidas principalmente em suas músicas. Basta assistir os vídeos de "Love me Do" e "All you need is love" para se ver que se tratam de duas bandas completamente diferentes, apenas com detalhes marcantes que os tornavam os Beatles, e isso é uma coisa importante para ser destacada, se é do interesse do músico fazer algo próximo do que era originalmente.
Ou isso ou eu bebi demais...

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, não tenho nada contra covers, especialmente os que se especializam em uma banda só. Agora, o que eu não suporto são aqueles caras que fazem versões. Geralmente os caras acabam com a música, por exemplo Sandy e Junior, que conseguiram piorar ainda mais a já ridícula "My heart will go on", da já naturalmente ruim Celine Dion. Agora, bandas covers, especialmente daquelas bandas que já não estão aqui, como Beatles, Doors e Queen, acho muito legais, até mesmo pela caracterização...

Anônimo disse...

eu prefiro ouvir histórias novas. cê sabe aquela do babaca que sai para almoçar e volta sempre com mais condimentos na roupa do que tinha no lanche que comeu?