sábado, 29 de dezembro de 2007

Natal e Papai Noel

Sei que o natal já passou há alguns dias e que é meio tarde para relembrar de histórias como a que eu vou escrever, mas o fato é que meu relógio biológico geralmente trabalha meio atrasado e eu só paro para refletir sobre as coisas quando me dá na telha, quando reflito. Deixando de lado aspectos puramente técnicos como o calendário, me ponho a relatar:

Nunca parei pra pensar sobre o que achava do natal. Desde pequeno não passava de um dia em que a família se reunia, trocava presentes e esperava dar meia noite para comer peru. Mesmo a figura intrigante do Papai Noel não me levava a nenhuma indagação. Embora fosse obviamente estranho um velhinho vir uma vez por ano vestido em roupas de frio no meio do verão e me entregar presentes somente por eu ter mandado uma carta para o Pólo Norte, eu aceitava aquilo com muita naturalidade e até sentava no colo do individuo, com um sorriso que não caberiam na boca, se não fosse pela falta de dois dentes da frente que demoraram mais do que deveriam para crescer. Depois de crescido e descoberto que na verdade a figura mítica vestida de vermelho e com grossas barbas brancas que eu sentava no colo todo ano era um dos meus tios, que os presentes era meu pai que comprava e que na verdade o natal correspondia ao dia que Jesus nasceu em Belém, ao invés de me revoltar contra o sistema, chutar meus tios na canela e perguntado o que raios era o Papai Noel, eu simplesmente deixei de lado a questão e me foquei em coisas mais práticas, como abrir os presentes.

Como tudo na vida que não se encaixa, um dia as duvidas finalmente vêm à tona e durante um jantar com meu pai me lembro de ter perguntado o porquê do culto à figura do Papai Noel, o que ele me respondeu: “ Papai Noel não é uma pessoa; o velhinho de barba branca e roupa vermelha é só uma representação de uma idéia de fraternidade, solidariedade e amor.”. Confesso que na época, com cerca de 15 anos de idade e nenhum conhecimento de mundo, eu simplesmente engoli a explicação sem mastigar e pus uma pedra no assunto.

Novas reflexões sobre o natal só me vieram á cabeça anos mais tarde, após diversas transformações drásticas na minha vida e no modo como eu a via. Com cerca de 20 anos, após celebrar o natal com meus irmãos, eu me encaminhava à casa da minha avó e fiquei com a incumbência de dar de presente uma garrafa decorativa que com nada se parecia. Durante o percurso do metrô vazio às 8 da noite da véspera de natal, eu fiquei pensando na vida, nos natais passados e principalmente pra quem eu daria aquela garrafa esquisita. Lá chegando e após cumprimentar os mais de 40 presentes, eu chamei minha tia de canto e pedi ajuda no assunto delicado da garrafa, o que ela me respondeu de pronto:

_ Dá pra sua avó!
E eu:
_Nem ferrando, a vó vai me bater com ela!
E então veio a frase que me fez refletir por bastante tempo:
_ Sua avó vai adorar. Não porquê a garrafa é bonita ou feia, se serve ou não para alguma coisa; ela vai adorar, porquê você vai dar. Não é o presente em si, mas sim o fato de você ter se lembrado dela.

Com isso em mente, entreguei o pacote para a minha avó, que abriu um sorriso enorme e disse que a garrafa era linda e que ela iria colocar na estante. Confesso que na hora fiquei um tanto pasmo e não acreditei muito no que ela disse; achava que ela tinha dito para me agradar, mas depois vi que realmente ela tinha gostado e a garrafa está até hoje na estante dela.

O fato é que depois disso eu entendi o que meu pai me explicara a tanto tempo durante o jantar e que eu levei anos processando: O natal é uma festa de celebração do amor universal, comemorado no dia do nascimento daquele que foi o maior exemplo em demonstrar esse sentimento sublime: Jesus Cristo. Descobri também que o natal se transformou com o tempo em uma data de consumismo e que os velhos valores de solidariedade e amor são expressos da maneira correta apenas por um numero mínimo de pessoas, que sabem o verdadeiro valor dessa celebração. Porém, mesmo depois de velho, as únicas coisas que eu consegui aprender sobre o mito do Papai Noel foram:

1 – Que é um instrumento poderosíssimo para fazer meu sobrinho se comportar, pelo menos na época do natal
2 – Que a roupa dele é vermelha por causa da Coca-Cola.

O resto ninguém sabe me explicar.

Feliz Natal a Todos. Atrasado, eu sei, mas fazer o quê?

Nenhum comentário: