domingo, 2 de dezembro de 2007

O Play do Lula



O futuro chegou! A nossa televisão de todo dia agora conta com transmissão padrão digital, em alta definição de imagem e som. Com um controle simbólico em mãos, o presidente Lula deu o “play” no futuro e transformou este dia em um marco na história brasileira, assim como fez Assis Chateaubriand nos anos 50. Porém, tão simbólico quanto seu controle e seu marco histórico, assim como fez Chatô, Lula deu seu “play” para ninguém. Ou quase ninguém.


Ao ser iniciado em São Paulo, um estado de 11 milhões de pessoas, o sinal digital efetivamente chegou para menos de mil habitantes, que são os possuidores de HDTV´s e Plasmas. Para eles, o futuro hoje anunciado já havia chegado, pois quem pode ter uma HDTV também pode dispor de um serviço de TV por assinatura, com padrão digital. Aqueles a quem interessa uma melhor resolução ainda não puderam fazer uso, e talvez nem conseguirão em tão curto prazo. Para se receber o novo formato de transmissão, as TVs devem conseguir “entender” o sinal que está chegando para poder transformá-lo em som e imagem. Como mais de 90% das televisões do país são analógicas e não “entendem” o sinal digital, os interessados deverão comprar um “decodificador” para ensinar aos seus aparelhos como receber programação digital. O preço desse “decodificador” ainda não foi fixado, mas os jornais noticiam algo em torno de 200 a 700 reais. Levando-se em consideração que o salário mínimo no Brasil é de R$ 380, o preço está um tanto salgado. Na cerimônia do “play”, o presidente disse que dessa ótica financeira o governo já se ocupou e que haverá um apoio por parte do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) aos varejistas, algo em torno de R$1 bilhão, para incentivar o povo a comprar o conversor e ter em suas casas a TV do futuro. É um número expressivo, mas para um país com 170 milhões de habitantes, esse incentivo talvez não seja grande coisa e o preço do conversor a primeiro momento continue acessível à massa.
Como no lançamento da televisão colorida, a TV digital por enquanto estará disponível para o povo apenas nas vitrines das lojas e chegará às suas casas apenas depois de a elite já ter algo melhor. Como aconteceu com o CD, o DVD e a telefonia celular, a nova televisão chegará às mãos dos menos favorecidos quando ela não for mais novidade, ou quando não tiver outra opção.


Alguns especialistas dizem que o grande “boom” da digitalização ocorrerá com a transmissão das olimpíadas de Pequim no próximo ano, mas não acho que o povo brasileiro seja fanático por olimpíadas a ponto de isso acontecer. Se ao contrário disso, fosse instituído que o “brasileirão” do próximo ano só poderia ser assistido por quem tivesse TV com recepção digital, eu acreditaria sem sombra de dúvidas que a indústria não conseguiria suprir o mercado por conta da demanda, mas por conta de uma olimpíada do outro lado do mundo eu duvido.


Cara ou não, acessível ou não, a partir desse 2 de dezembro de 2007 a TV digital de uma maneira ou de outra se tornou uma realidade; e como Chateaubriand, o presidente deu o pontapé inicial em um jogo que ainda não se mostrou emocionante, mas tem visual bonito, som de cinema e com certeza vai dar o que falar!


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