segunda-feira, 26 de maio de 2008

Ônibus!

Ônibus são sempre ambientes curiosos. Um lugar onde se espreme 50 ou mais pessoas estranhas, às vezes por um grande período de tempo, é quase uma aula de sociologia. É divertido observar. E de graça.Começa o show quando o ônibus para em seu ponto de partida e os passageiros começam a entrar. Não existe uma formula matemática de como é feita a distribuição das pessoas pelos bancos, mas é mais ou menos assim: Conforme vão entrando, as pessoas vão ocupam em primeiro lugar a parte traseira do coletivo e os bancos mais próximos da porta de trás, o que eu chamo de “distribuição estratégica”, uma vez que inconscientemente as pessoas estão ocupando os lugares onde o acesso à saída ficará mais fácil e cômodo mesmo depois dos corredores estarem entupidos. Essa mentalidade se aplica apenas aos 10 primeiros passageiros, pois daí pra frente, os bancos próximos às portas já estarão ocupados por uma pessoa cada um e, seguindo o que eu chamo de “ regra da distância”, as pessoas naturalmente ocuparão os outros bancos vazios, mesmo os mais distantes da saída, antes de se sentarem ao lado de um estranho. Essa é uma atitude bem típica e compreensível, afinal, como você se sentiria se fosse o primeiro a entrar em um ônibus e a próxima pessoa a entrar se sentasse ao seu lado, mesmo com todos os outros bancos vazios? Desconfortável? Eu também. Mas não se preocupe, isso provavelmente nunca acontecerá. Então vamos em frente.Talvez o maior dilema que eu enfrente ao andar de ônibus, diz respeito a ceder o meu lugar, às vezes conquistado à custa de muita espera em uma fila imensa. Idosos e pessoas com crianças de colo e deficientes não entram nesse dilema, pois é lei, então não há o que discutir. Só respeitar. E parar de fingir que está dormindo, que isso é muito feio. O dilema a que me refiro, diz respeito ao cavalheirismo do qual todos os homens são pressionados a representar. Mais especificamente: Eu entrei, sentei, e ao meu lado, em pé, pára uma moça cheia de sacolas, salto alto e cara de sofrimento que faria um até um nazista ficar com pena. Qual a atitude correta? Levanto e deixo ela se sentar? Seguro as sacolas? Finjo que estou dormindo? Geralmente escolho a segunda opção, seguro as sacolas. Até hoje nunca levantei. Ficaria um clima estranho, mesmo se ela aceitasse. Não vou dar uma de hipócrita também e dizer que nunca fiz a terceira. Mas aconteceu porquê me ofereci para segurar as sacolas de uma moça e não vi que ela estava com uma amiga, também com uma mochila. Porém, no meu colo já se encontrava a minha mochila e a da outra moça, de modo que uma a mais comprometeria minha capacidade de me segurar dos solavancos. Então tomei uma atitude simples: Virei a cabeça em direção ao vidro abri um pouco a boca e até encenei alguns roncos. Antes um dorminhoco do que um mal-educado.Existem também aqueles que são simpáticos e puxam conversa com os companheiros de viagem. Geralmente não me sinto a vontade com essas pessoas, mas não é regra. Normalmente, se chego a fazer algum comentário com a pessoa do lado, é sempre em respeito ao trânsito, à chuva ou alguma eventual cagada do motorista. não sai disso. Semana passada aconteceu uma cena curiosa: Voltando para casa da faculdade, por volta das 23:30, meio cansado e meio molhado, eu vinha tentando dormir na tocada tranqüila do coletivo. Tentando porquê ao meu lado vinha uma moça que tentava marcar uma consulta em algum hospital pelo celular, que volta e meia ficava com o sinal fraco, e para se entender com a recepcionista do outro lado, ela falava meio alto. Paciência. Porém, em um determinado momento, a perua fez uma manobra meio esquisita e quase bateu de frente com um ônibus que vinha em sentido contrário. Eu nem percebi, estava sonolento demais, mas a moça ao meu lado surtou. Desligou o celular, olhou pra minha cara e falou “ Você viu o que ele fez?” eu respondi que não e tentei demonstrar que queria dormir, mas ela estava possuída por alguma espécie de espírito tagarela, ou tendo uma overdose de adrenalina e não me permitiu esnobá-la: Apontou pra fora da perua e falou em um tom meio alto para o horário: “ FOI NAQUELA DELEGACIA QUE TIREI MEU RG”. Eu não sabia se tinha entendido bem o comentário e muito menos o que responder, mas tentei demonstrar que aquele era um comentário tão rotineiro quanto um “será que chove?” e respondi com uma cara neutra: “o meu foi no poupa-tempo”. Grande... Grande erro. Por causa dessa resposta, talvez mais fora de hora do que a pergunta, fui obrigado a ficar o restante da minha viagem conversando sobre documentos e sobre como os tempos mudaram a esse respeito, com até algum tipo de nostalgia. É em dias como esse que percebo como a simplicidade cultural do brasileiro parece não ter limites para surpreender, como somos capazes de falar muito sobre nada e sobre como em situações como essa, parecem não existir barreiras entre as pessoas. Mas no meu caso, sinceramente, depois de uma viagem como essa, eu geralmente me pergunto:Cade meu carro?

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