segunda-feira, 26 de maio de 2008

Passeio no Centro...

Para se conhecer a verdadeira São Paulo é importante passar um dia no centro histórico. Todo o emaranhado de prédios, mendigos, prostitutas e engravatados é, sem dúvida, uma das grandes fotografias da cidade. Todo o anel central que se estende da Liberdade à Luz e da República ao Parque D. Pedro é palco de cenas esquisitas, atores inesperados e histórias engraçadas.

Apesar de todo a agitação dos dias úteis, uma ótima maneira para se aproveitar o centro da cidade é ir até lá no fim de semana, em um sábado na hora do almoço, por exemplo. É divertido escolher a esmo um dos botecos e se sentar com amigos para tomar uma cerveja e ver o dia passar. Na minha última visita, eu e dois amigos escolhemos um bar de esquina, ao lado da Praça João Mendes, esquina com a Av. Liberdade e atrás da Catedral da Sé. A localização era ótima, o trio “Calor, Original e calabresa”, além das ímpares personalidades que me acompanhavam, eram fatores que anunciavam uma ótima tarde pela frente. Como de praxe, escolher a mesa onde passaríamos as próximas horas era uma decisão importante, pois precisa atender a três princípios básicos: Visão privilegiada de quem passa pela rua e de quem entra, proximidade do banheiro e boa visibilidade do garçom. Caso o bar possua mesas na parte externa, a distancia do banheiro pode ser sacrificada pelo privilégio de estar ao ar livre e ter visão panorâmica do que acontece ao redor. Nesse dia e bar em particular, nós fizemos essa opção, tomando o vento que vinha da Av. liberdade e seguia para a Sé, com visão para as “Belas da tarde”, prostitutas que trabalham encostadas nas floriculturas da praça ao lado da João Mendes e que receberam esse nome em uma ótima matéria da Folha de S. Paulo. Acomodados, chamamos o garçom e pedimos o inventário do bar, “Original” e “Bohemia” geladas, “Brahma” e “Skol” mais ou menos, ficamos com a “Original”, pedimos alguns lanches para fazer o fundo e deixamos os trabalhos iniciarem, era 12:30. Meia hora depois estávamos na terceira gelada, o garçom já havia recolhido os restos de guardanapo e potes de Catchup, mostarda e maionese que restaram sobre a mesa após a rodada de lanches. Lembranças de épocas passadas, comentários sobre amigos em comum e sobre os transeuntes que por ali passavam eram assuntos que se revezavam no script da conversa da mesa, recheado por comentários maldosos e risadas mais altas que o normal, propiciadas pelo aditivo de cevada fermentada. Até aquele momento, ignorávamos as prostitutas que se encontravam a alguns metros de distancia, se empenhando na captação de clientela. Porém, uma vez que o assunto começou a diminuir e o número de garrafas na mesa a aumentar, descobrimos que olhar e comentar sobre as “belas”, que de belas tinham pouco, e sobre seus possíveis clientes era um esporte interessante e ia bem com a porção de fritas que acabávamos de pedir. 10 minutos depois, chega o Alemão com a porção, uma Original e, percebendo os rumos da nossa conversa, passa a radiografia de todas as moças do local, com detalhes como preço, tempo de programa, média de clientes/dia, detalhes dos serviços prestados, locais utilizados para os programas, esquema de segurança com policiais. Enfim, um verdadeiro conhecedor do comercio que se desenrola em frente ao seu bar diariamente. Afim de verificar se a informação relativa ao tempo de programa que o Alemão contou ( única informação possível a nós validar, uma vez que não queríamos nos levantar da mesa), passamos a cronometrar o tempo gasto entre a garota sair acompanhada e voltar sozinha, deduzíamos o tempo que levava para chegar ao hotel e demais protocolos e chegávamos a uma estimativa do tempo da “ação” propriamente dita e chegamos à conclusão de que o garçom sabia do que falava, o que nos levou a desconfiar que ele seja um cliente regular, mas decidimos não perguntar.

Outra grande diversão era imaginar quais clientes efetivamente procuravam pelos serviços, quais apenas especulavam e quais eram tímidos, pois passavam duas ou três vezes pelo local antes de fazer qualquer pergunta. Depois de horas de observação e análise, nos tornamos “experts” em reconhecer cada tipo que abordava e conseguíamos inclusive dizer quem iria “arrastar” ou não, o que levou a um novo jogo: Sempre quando uma “bela” era abordada, começávamos em coro “Vai arrastar, vai arrastar”, se o cara não levasse, havia um coro em protesto “Ahhhhhhhhhhhhh!”, se levasse, gritávamos todos na mesa e dois caras da mesa ao lado, que também gostaram do exercício: “AEEEEEEEEEEEEEEE” e todos brindavam com seus copos. Algum tempo e 15 cervejas depois, as moças perceberam nosso jogo, e sorriam para nossas graças talvez enxergando em nossas mentes turvas por litros de Original, clientes em potencial, o que nós correspondíamos com mais graças e acenos de convite para integrarem a mesa, que elas educadamente ignoravam.

6 horas e 21 cervejas ( a “caidera” foi por conta da casa) depois, fechamos nossa conta, cumprimentamos os novos amigos que já não lembrávamos o nome, prometemos ao Alemão que voltaríamos em breve e saímos passeando pelo centro, afinal, a noite estava apenas começando...

2 comentários:

Anônimo disse...

Cara, o pior né que eu li, imaginando essa figura enchendo a cara e zuando com as trabalhadoras e digníssimas damas...huahuahuahuah

Pô Flavito, só vc mesmo pra me fazer até engasgar com o café de tanto rir...hauhauhauha

bjão
Monka

Anônimo disse...

** "Cara, o pior É que eu li, imaginando..."