quarta-feira, 11 de junho de 2008

Na porta ou na parede...

A paixão pela leitura não respeita lugar. Para quem gosta desse tipo de exercício intelectual, tanto faz se está deitado no sofá de casa, em pé no metrô ou sentado na privada. No último caso principalmente, pois desvia a atenção do esforço demandado para o perfeito cumprimento do dever fisiológico. Por vezes, além de se distrair, na falta de material feito especificamente para leitura, pode-se aumentar exponencialmente seu conhecimento de mundo ao descobrir, por exemplo, quais são os ativos químicos contidos na sua pasta de dente. Outra hipótese, é a de expandir os conhecimentos de quem usa o mesmo sanitário que você, revelando seus pensamentos, críticas ao sistema, aquela veia poética que só sua avó conhecia e o melhor: anonimamente. Claro que emporcalhar o banheiro da sua própria casa seria burrice e seus pais provavelmente o fariam limpar, mas em banheiro público não há problema, pois além de transformar em um ambiente mais intimista, contribui com a diversão de terceiros, que assim como você, não tiveram tempo de chegar em casa e foram obrigados a agüentarem o cheiro azedo e o assento nada higiênico por forças maiores da natureza. Nesse tipo de redação em especial, a criatividade é indispensável. O tema não importa, o necessário é que mexa com o inconsciente e o emocional daquele, que ali sentado, faz força para botar pra fora o que precisa. Desde que seja público, o local não importa, embora haja diferenças básicas, exemplifico:

Em um banheiro de faculdade, próximo às salas de comunicação social: "O tsunami na Ásia na verdade foi uma bomba atômica no Pacífico... Desconfie das notícias!”;

De engenharia: "a diferença entre cagar e dar o cú é meramente vetorial"

De filosofia: “Se eu pudesse fazer o que eu não posso fazer,como eu saberia o que fazer?”;

E naquele do cursinho, para aqueles que ainda sonham com o curso superior e se preocupam com o resultado do vestibular: "Enquanto você está cagando, tem um japonês estudando”.

Saindo do campo estudantil, existem os banheiros de bar, forrados por anúncios de pessoas buscando parceiros amorosos ou sexuais, lançando pensamentos sobre a vida (“A Verdadeira felicidade consiste em chegar a tempo neste local”), clamores amorosos, ainda que endereçados para aquela pessoa que nunca terá a oportunidade de ler (“Karina, te amo!!!!”, Retirado de um banheiro masculino). Alguns simplesmente expõem a sua situação (“Estou bêbado”), voltam a afirmar na semana seguinte, ao lado da citação anterior (“Mais um dia Bêbado”) e, quando muda o dono do bar e a parede é pintada, vêm uma terceira citação, se reafirmando e lançando um desafio ao novo proprietário do estabelecimento (“Muda o dono, pinta a parede e eu continuo bêbado”). Alguns chegam inclusive a discutir ao longo da parede, começando por uma reprimenda àqueles que ali escrevem: “Não rabisque a porta, mostre a sua cultura”. Nesse ponto, algum desses a quem a mensagem se dirigia, bebeu um pouco além e se revoltou com a bronca. Por coincidência ou não, tinha uma caneta no bolso e mandou a deselegante réplica: “Perdi a cultura quando comi sua mãe”. Atacado em seus brios, o autor da primeira mensagem treplicou: “Então me chupe e a recupere!”. Nesse ponto a parede chegou ao fim e a briga não pode ter continuidade, para tristeza dos leitores, que tentavam imaginar qual seria a próxima investida do bêbado revoltado.

Por se tratar de ambientes geralmente pequenos, saber trabalhar com pouco espaço é fundamental. Trabalhar no tamanho da fonte e usar cor escura (no mínimo azul escura), para que fique legível por todos que estejam sentados. Alguns aproveitam e brincam com o espaço, por vezes fazendo o leitor de bobo, escrevendo na porta “olhe para a esquerda”; no lado esquerdo: “Olhe para o outro lado” e finalmente na direita: “olhe para o outro lado novamente e sinta-se em Rolland Garros!”. É óbvio que o público do banheiro do bar é o mesmo que freqüenta suas mesas e dependendo do local, o público é mais ou menos culto, em alguns casos, bilíngües e poetas ao mesmo tempo:

"El que viene a cagar
Y de hacer versos se acuerda
No se lo pudes negar
Es un POETA DE MIERDA."

E outros, como eu faço agora, apenas se despedem...

“Boa cagada que eu já vou indo...”

Um comentário:

Anônimo disse...

AMEI O TEXTO! HAHAHAHAHAHAHA

Contribuição:
Frases de banheiros femininos:

"O ruim da lingüiça, é que o porco vem junto..."

"Aproveita boba, ele não vai sentir o cheiro da mesa" (Intrigante não?!)

Fulana 1: "Caio, eu te amo" (como que ele vai ler é que eu não sei...mas beleuza)

Fulana 2: "Ama nada, tu ama é o pinto dele"

Resp. da Fulana 1: "Adivinhona!"

(Mulheres sinceras é o que há!)

Se lembrar de mais te mando...


bjuuuuuu