sábado, 8 de novembro de 2008

Paranóia

O que fala de você para o companheiro, aquele homem sentado na calçada, sujo e com o rosto queimado de sol? Que teve mais sorte que ele na vida, que devia agradecer por onde dorme, pelo que come e pelo que veste? Ri da sua falta de liberdade? pelo seu trabalho em horário comercial e contas a pagar? O que fala de você aquele cara com quem você estudou na 3ª série, que cruza seu caminho? Que foi uma grande amizade, que vai marcar uma cervejada com a velha turma, ou que apenas viu um rosto familiar na rua?
E aquela menina que te paquerava no serviço, diria para a nova estagiária que você agora está mais bonito, que é alguém de sucesso, que ama o que faz? Talvez diga que deveria ter continuado na antiga faculdade, no antigo emprego, com as velhas amizades e velhos valores...
O que fala de você para o garçom, o dono do boteco que você freqüenta? Que é um amigo que passou por lá para tomar uma cerveja, papear e comentar os últimos lances do último clássico no Pacaembú? Que é um bom cliente, que não tinha 50 reais na carteira para honrar as doses de uísque que tomou e pendurou na caderneta para acertar amanhã?
Em uma balada na Vila Olímpia, o que dizem sobre você os amigos da sua menina, quando descobrem que você anda de ônibus, que usa tênis barato e que está com dinheiro contado para a noite? Que era um cara gente boa, engraçado e que esperam que apareça mais vezes, ou de que buraco uma menina tão bonita tirou um traste como este? E quanto àquela moça em roupas mínimas e maquiagem pesada, que circula por uma esquina do centro, contando os minutos para voltar para vida real? Diria para moça da outra esquina que você foi mais um cliente a se deitar na sua cama e se embebedar da sua luxúria ou que foi alguém especial, que ela quer conhecer melhor?
O que fala de você para as amigas, aquela menina que te sorri quando não precisa, que se fecha quando indagada e que te beija inesperadamente?
Provavelmente nada, você que anda paranóico...

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