domingo, 18 de novembro de 2007

Futebol

Viver no Brasil e não gostar de futebol é um crime não previsto no código penal, mas punido severamente pela sociedade como se fosse uma condição “sine qua nom” para qualquer cidadão que queira ostentar a sua nacionalidade. O modo de coerção utilizado pelo povo para punir quem não se identifica com o esporte é a segregação. A menos que você saiba pelo menos as cinco primeiras posições na tabela do campeonato vigente e o resultado dos dois últimos jogos do seu time do coração, você jamais conseguirá acompanhar os rumos das conversas do buteco que sua turma freqüenta e muito menos ter qualquer nível de amizade com o tiozinho da padaria onde você compra pão e leite toda manhã. Pode parecer bobagem, mas não saber responder com precisão quando ele comentar “E o Corinthians hein?” pode te custar pães mais torrados do que você pediu, uma demora monstruosa para fatiar a mussarela e uma careta do padeiro, que com certeza vai achar que você é palmeirense e não respondeu com boa vontade por que seu time está na zona de rebaixamento e com o volante suspenso para a próxima rodada.

No meu caso o problema é ainda maior, porque além de não gostar de futebol, ainda sou louco por corridas de carro, principalmente F1. Não é um gosto tão estranho se levarmos em consideração que na Coréia as pessoas comem cachorros, mas a impressão que eu tenho quando comento com alguém a minha paixão é justamente essa: Que acabei de narrar em detalhes meu banquete de São Bernardo, acompanhado de um Pinsher de sobremesa. Ninguém entende. E o que é pior: quem acaba constrangido no final das conversas sou eu!

Há uns dois meses, eu entrei no mercadinho da frente da minha casa decidido a fazer o senhor do caixa, que deve ter uns 50 anos, se sentir tão idiota quanto eu me sinto todos os dias. Para isso, entreguei-lhe as mercadorias que ia comprar e antes que ele pudesse comentar qualquer coisa sobre o “brasileirão”, eu comentei com uma cara de vencedor algo como “e a Ferrari hein? Que vitória!”. Para meu azar, ao contrário da cara de pastel que eu normalmente faço, ele simplesmente me olhou com o maior ar de desinteresse do mundo e disse: “Eu não vi filho, deu R$7,00, vai querer sacolinha?”. Sai de lá praticamente depressivo, me sentindo um verme pela esnobada e um burro por nunca ter pensado naquela resposta tão simples.

Pior do que os que não se interessam, são aqueles que fingem interesse por solidariedade e quando me vêem com a camiseta da Ferrari, se apressam em dizer que o Barrichello é a maior vergonha que o Brasil já teve no esporte e que, além do Ayrton Senna, nenhum outro brasileiro prestou. Pra terminar, emendam a clássica: “Na época do Senna que era bom, dava graça de assistir”. Nessa hora normalmente eu só concordo com um meio sorriso e mudo de assunto. Não que eu não concorde que o Ayrton seja o melhor piloto que o mundo já tenha visto, pelo contrário, sou fã incondicional e discuto energicamente a favor disso (geralmente sozinho, claro) mas o que me incomoda é que a única coisa que todo mundo lembra da F1...é o Senna! Como no futebol, onde tivemos o Pelé, mas também tivemos e temos outros excelentes jogadores. Nenhum me passa pela cabeça agora, mas o exemplo foi só pra ilustrar.

Somente de quatro em quatro anos eu me sinto verdadeiramente brasileiro: Na copa do mundo. Torço, grito, xingo o juiz e falo mal da narração do Galvão Bueno como um verdadeiro fanático. Arrisco inclusive alguns comentários técnicos sobre táticas, como o momento certo pra trocar o meio campo ou se o Ronaldinho deveria estar jogando mais atrás, para ajudar os alas. Em situações como essa, só tem uma coisa sobre a qual não me permito opinar e que tenho certeza que jamais na minha vida eu vou descobrir:
O que diabos faz um volante?

Um comentário:

Anônimo disse...

hahaha
Eu acho que sou mais fã de futebol do que vc rs. Mto bom o texto..

Bjuuu