quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Public Speaking



Falar em público pra mim é um suplicio. Geralmente não sou uma pessoa envergonhada ou tímida, mas toda vez que sou chamado à frente de qualquer platéia com mais de dez pessoas meu organismo se recusa a trabalhar com eficiência, o que se traduz em uma série de embaraços.


A perdição começa no momento que sou chamado. O sangue parece que some das pernas e que eu estou prestes a ter uma gangrena, pois não consigo caminhar em linha reta ou velocidade constante. Fico meio galopante e torto. Sempre procuro sentar na ponta da fileira quando sei que vou ter que levantar, pois sempre que estou nessa condição fico apavorado com o risco de tropeçar nas pernas dos sentados e acabar deitado no colo de alguém. Meus braços e mãos são outros pontos onde não posso ter confiança, pois ao contrário dos mímicos, políticos e professores de história, eu nunca sei o que fazer com eles quando quero me comunicar em público. Parece que transformam em apensos inúteis do meu corpo, que não fariam a menor falta se pudessem ser desconectados naquele momento, para serem reintegrados depois. O que me sobra é a fala. Por obra de Deus, da genética e do destino, minha cabeça é proporcionalmente grande ao conteúdo que ela pode armazenar e meu vocabulário é muito bom. Porém, a mesma sinapse cerebral que me faz andar torto e balançar os braços, também faz com que minha dicção trabalhe com apenas 20% da capacidade total, o que na prática significa que eu começo a gaguejar desde o momento em que dou boa noite.


Uma vez na frente de todos, respiro fundo e tento encontrar algum lugar para me encostar, de modo a aliviar um pouco a tremedeira e o corpo mole. Para quem assiste, deve ser cômica a cena de um rapaz encostado na lousa, com suor brotando aos litros pelas têmporas e rindo de nada, como a hiena mais idiota do seu bando. Já tentei usar algumas técnicas que um ou outro amigo disse que usava nesses momentos como, por exemplo, focalizar uma pessoa na platéia e fingir que está dizendo tudo somente pra ela, de modo a aliviar a pressão. Confesso que a idéia me pareceu boa da primeira vez, mas desisti um minuto após começar a utilizá-la pois tive a nítida impressão que estava parecendo um cego, com os olhos vidrados. O Jeito é tentar parecer o mais natural possível, não me movimentar muito e me focalizar no que estou dizendo. Impossível! Segundos após ter começado a falar eu noto que alguém está com o nariz sujo, a calça aberta ou algo do gênero, o que me faz com que eu me perca no meio das frases ou comece a falar mais devagar, como se sofresse de algum distúrbio cromossômico.


Geralmente o pânico só passa quando ouço as palmas. Nesse momento parece que o sangue voltou a circular, deixando raciocínio, coordenação motora e dicção razoavelmente em ordem. Nesse momento, apenas uma frase pode me fazer voltar ao estado de catalepsia cerebral:


“Eu tenho uma pergunta Flávio!”


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